Contemporâneo nas pontas

Às vezes, eu canso do ballet clássico. Não quero ler a respeito, assistir a vídeos, ouvir músicas de repertório, tampouco fazer aulas. Confesso, sequer sinto falta. Depois passa e volto a me dedicar.

Quando contei isso no blog, há bastante tempo, ouvi várias críticas. Disseram até para eu abandonar de vez o ballet. A grande questão é que nunca nos largamos, só damos um tempo, pelo bem da nossa relação.

Durante essas pausas, eu não esqueço a dança, apenas pesquiso outras possibilidades com mais afinco. Estou na fase da dança contemporânea. Nessas horas, eu encontro cada coisa incrível e meu coração se desmancha. Por algum motivo inexplicável, dança contemporânea nas pontas faz meus olhos brilharem!

Variação de dança contemporânea (“Nocturnes”, de John Neumeier), Lili Felmery, Prix de Lausanne, 2008.

Podem brigar comigo, mas eu me encontro muito mais quando vejo coreografias assim. Desculpa, Petipa. Sinto muito, tutu bandeja. É mais forte do que eu.

Prix de Lausanne 2013

Sábado aconteceu a final do 41º Prix de Lausanne. Ano passado, também falei sobre a competição e expliquei por que essa é a única que acompanho e admiro.

Nessa edição, participaram 84 bailarinos, de 20 países diferentes, sendo 9 deles brasileiros:

Adhonay Silva (Balé Jovem do Centro Cultural Gustav Ritter, Goiânia)
Bianca Teixeira (Estúdio de Dança Adriana Soares, São Paulo)
Juliana Paiva (Petite Danse, Rio de Janeiro)
Larissa Luna (Ballet Adriana Assaf, São Paulo)
Letícia Domingues (Petite Danse, Rio de Janeiro)
Luciana Abreu (CEP em Artes Basileu França, Goiânia)
Marcos Silva (Ballet Adriana Assaf, São Paulo)
Yuri Marques da Silva (Spinelli Escola de Dança, Rio de Janeiro)
Verônica Vasconcelos (Balé Jovem de São Vicente, São Paulo)

Vinte bailarinos foram para a final; destes, dois brasileiros: Letícia Domingues e Adhonay Silva. São concedidas oito bolsas de estudo; ela ficou com a número 4 e ele, além de receber o prêmio do público, conseguiu a bolsa número 1, ou seja, venceu o Prix de Lausanne. O resultado por ser visto aqui.

Houve transmissão ao vivo pela internet, mas a minha conexão não ajudou como deveria. Consegui ver apenas a premiação e nem preciso dizer que gritei duas vezes. Há quem celebre gols da seleção brasileira na Copa do Mundo, eu comemoro bailarinos brasileiros vencendo no Prix de Lausanne.

A final completa ainda não está disponível no canal oficial do YouTube, mas ninguém precisará se contorcer de ansiedade. Primeiro, vamos ver a Letícia no último dia. Ela não é encantadora? E que Swanilda mais linda! Ela também foi incrível no contemporâneo. O Adhonay aparece ao lado dela em um momento, e também no final.

Agora, o Adhonay. Além dessa simpatia toda, o que é esse menino dançando, alguém me diz? Eu fiquei arrepiada na variação, fiquei arrepiada no contemporâneo, chorei quando ele disse “O que vale para mim é dançar mesmo”. Ele aparece apenas nos sete primeiros minutos, e fica claro porque ele venceu tanto pelo júri quanto pelo público.

E a vontade de abraçar os dois? Quando eles se abraçam no final do primeiro vídeo, e pulam de alegria, dá até um afago no coração.

De uma maneira geral, há duas coisas muito importantes para serem destacadas. Primeiro, das oito bolsas de estudo, sete foram concedidas a bailarinos. Ou seja, se alguém ainda tinha dúvidas, ballet clássico não é “dança de menina”. Segundo, a única bailarina contemplada foi uma brasileira. Desculpa, resto do mundo!

Vida longa à carreira de vocês e digo isso aos nove bailarinos. Para a Letícia e o Adhonay, que minha emoção ao vê-los dançar tenha sido apenas a primeira, de outras tantas que terei o prazer de sentir.

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Para assistir à final completa do Prix de Lausanne 2013, aqui.

Prix de Lausanne 2012

Ontem aconteceu a 40ª edição do Prix de Lausanne, uma competição internacional para jovens bailarinos, de todas as nacionalidades, com idades entre 15 e 18 anos. O objetivo é auxiliar a carreira desses jovens, com bolsas de estudo em escolas de grandes companhias ao redor do mundo. Esses custos são bancados por empresas patrocinadoras.

Quem acompanha o blog, deve desconfiar que não sou fã dessas competições. Primeiro, porque acho muito cruel. A pressão, a ansiedade, a concorrência, ser avaliado em poucos dias. Segundo, competições podem gerar uma disputa desmedida, ainda mais em pessoas tão jovens. O mundo é assim? Eu sei, mas continuo achando cruel e insensato. Mas, confesso, eu tenho um grande apreço pelo Prix de Lausanne. Quando vejo aqueles bailarinos cheios de esperança e dedicação, querendo ser profissionais com tanto ardor, eu me emociono. Especialmente, porque o grande prêmio ali é estudar, não ganhar um troféu para colocar na estante dos estúdios de dança. Por isso, o Prix de Lausanne tem toda a minha admiração.

As bailarinas brasileiras Larissa Santos e Thamires Chuvas aparecem nesse vídeo. Eu fico tensa só de olhar essa banca, que dirá elas. E eu torci tanto pela Thamires na final… Ela estava linda!

A final foi transmitida ao vivo pela internet. Eu acompanhei quase todas as apresentações de clássico e algumas de contemporâneo. Também assisti à entrega dos prêmios. No geral, foram selecionados sete bailarinos brasileiros (quatro meninas e três rapazes), três foram para a final (Thamires Chuvas, Daniel Silva e Edson Barbosa) e um deles, o Edson Barbosa, ficou em terceiro lugar e ganhou uma bolsa de estudos.

Além de talentoso, o Edson Barbosa é uma simpatia! Não dá vontade de ser amiga dele?

Analisando a lista de vencedores desde 1973, há nomes que conhecemos muito bem:

1980 Alessandra Ferri, Itália (bolsa de estudos)
1981 Leanne Benjamin, Austrália (bolsa de estudos)
1984 Viviana Durante, Grã-Bretanha (prêmio em dinheiro)
1986 Darcey Bussell, Grã-Bretanha (prêmio em dinheiro)
1986 Julie Kent, Estados Unidos (bolsa de estudos)
1987 José Martinez, Espanha (bolsa de estudos)
1989 Ethan Stiefel, Estados Unidos (prêmio em dinheiro)
1990 Carlos Acosta, Cuba (medalha de ouro)
1992 Laetitia Pujol, França (bolsa de estudos)
1994 Benjamin Millepied, França (prêmio em dinheiro)
1994 Diana Vishneva, Rússia (medalha de ouro)
1995 Gillian Murphy, Estados Unidos (Prix de Lausanne “Hope”)
1997 Alina Cojocaru, Romênia (bolsa de estudos)
2002 Maria Kochetkova, Rússia (bolsa de aprendizagem)
2003 Steven Mc Rae, Austrália (bolsa de estudos)

E os brasileiros nessa história? Oito bailarinos foram vencedores ao longo de todas as edições. É interessante notar como o tempo entre uma vitória e outra está diminuindo. Sem contar os brasileiros selecionados para participar e, além disso, os que também foram finalistas. Ou seja, a nossa qualidade técnica tem crescido de uns tempos para cá.

1990 Christiane Palha (Prix de Lausanne “Hope”)
1993 Adriana Dias Duarte (bolsa de estudos)
1996 Marcelo Gomes (Prix de Lausanne “Hope”)
2003 Celisa Diuana (bolsa de aprendizagem)
2008 Marcella de Paiva (bolsa de estudos)
2008 Irlan Silva (bolsa de aprendizagem)
2011 Mayara Magri (bolsa de estudos + prêmio do público)
2012 Edson Barbosa (bolsa de estudos)

É impossível negar a importância do Prix de Lausanne para a profissionalização dos bailarinos. Só uma coisa me intriga: Por que mesmo com tantos bailarinos japoneses – e, em menor grau, chineses e coreanos – vencedores, não os vemos nas grandes companhias? Quem quiser notar isso, basta conferir a lista de todos os ganhadores ao longo dos anos, aqui. Mas isso é questionamento para um outro dia.

Parabéns aos bailarinos brasileiros que participaram e, em especial, ao Edson Barbosa bolsa de estudos. Talvez vocês achem que não, mas ficamos aqui torcendo muito por vocês. Ganhando ou não, são bailarinos que nos enchem de orgulho e beleza.

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Quem quiser assistir à final de 2012, aqui.