Ensaio com a Maya Plisetskaya

Eu tenho cá para mim que algumas bailarinas fazem determinadas personagens melhor do que outras. Claro que é questão de preferência, e eu tenho algumas preferidas em determinados ballets.

Para mim, Maya Plisetskaya é a melhor Odile de todos os tempos. Enquanto a maioria das bailarinas pensa no lado sedutor do cisne negro, ela traz à tona o seu lado perverso. Odile é má na sua essência e é raro encontrar quem consiga reconhecer isso.

Eu fico impressionada com este entrance. A Maya Plisetskaya tem completo domínio da situação.

Maya Plisetskaya (Odile), Alexander Bogatyrev (Siegfried) e Boris Efimov (Rothbart). Entrance de Odile, O lago dos cisnes, Bolshoi Ballet, 1976.

Pois eu encontrei dois vídeos da Maya Plisetskaya ensaiando a Marie-Agnès Gillot, étoile da Ópera de Paris. É uma aula de como dançar o cisne negro!

O primeiro vídeo, em que elas ensaiam a “Variação de Odile”, vocês podem ver aqui. No segundo, elas ensaiam a coda do grand pas de deux. Achei tão importante que resolvi compartilhar: traduzi as legendas e marquei os minutos e segundos em que elas aparecem, assim, todo mundo assiste e aprende.

0’01” Primeira coda.
0’22” Lembre-se: mais elevação.
0’31” Faça o passé o mais alto possível.
0’40” Um passé bem grande.
0’42”As costas bem eretas.
0’47” Segunda coda.
0’49” Não se esqueça de elevar mais a perna.
0’53” É mais bonito e mais produtivo.
1′ 05” E depois, o que ela faz?
1’25” O primeiro [passo] não é um pas de chat.
1’55” Não se apoie no Rothbart.
2’00” Ela deve manter-se em equilíbrio sozinha.
2’06” Foi bem feito, nós! (se alguém souber uma tradução melhor, por favor!)
2’17” Sem pas de chat.
3’02” Vitória!
3’04” É o fim do pas de deux.
3’08” Ela triunfa.
3’12” Com Rothbart e a mãe…
3’15” e o príncipe.
3’22” Agora, Odile revela seus sentimentos.
4’13” Príncipe idiota!
4’17” E sua mãe…
4’47” Não há Odette!
5’18” A mãe…
5’42” Por tradição, a rainha mãe cai em síncope

Quem quiser assistir à Maya Plisetskaya no grand pas de deux do cisne negro, aqui.

“Bailarina tem de ser novinha!”

“É preciso ser nova para dançar ballet clássico!” Por favor, antes de concordar ou discordar da afirmação, ou colocarem suas ressalvas, assistam aos vídeos a seguir.

Aurélie Dupont, 2012, aos 39 anos.

Sylvie Guillem, 2011, aos 46 anos.

Margot Fonteyn, 1966, aos 47 anos.

Maya Plisetskaya, 1986, aos 61 anos.

Sim, todas elas têm muitos anos de treino, mas vejamos um pouco além. Elas mostram o quanto estão bem capazes fisicamente. Não só, vemos aí o auge da maturidade artística.

Por isso, antes de proferir qualquer crítica a respeito de quem começou depois dos 20 e poucos anos, estudem história do ballet clássico. Isso ajuda, e muito!, a argumentar com propriedade. De “eu acho” o mundo já está cheio.

Cada bailarina do seu jeito

Eu gosto de assistir a uma mesma variação dançada por várias bailarinas diferentes. Não apenas para analisar a técnica ou perceber as nuances, mas para notar as particularidades. O que faz a Odette da Marianela Nuñez tão diferente da Odette da Agnès Letestu?

Por isso, eu escolhi algumas versões da “Variação de Odette”, de O lago dos cisnes, com diferentes bailarinas. Todas incríveis, do jeito que são.

Maya Plisetskaya, Bolshoi Ballet

Agnès Letestu, Ópera de Paris

Gillian Murphy, American Ballet Theatre

Natalia Makarova, Royal Ballet

Mesmo não sendo esta a intenção, é impossível não perguntar: Qual é a preferida de vocês? Não precisa ser alguém dessa lista.

A minha, duvido que alguém acertaria. Sou apaixonada pela Odette da Gillian Murphy. Por enquanto, nenhuma bailarina conseguiu me deixar tão emocionada quanto ela. Nenhuma.