O pote de ouro no fim do arco-íris

Não é segredo para ninguém que a minha bailarina preferida é a Aurélie Dupont, étoile da Ópera de Paris. Escrevi um post em 2011 contando os meus motivos, vocês podem ler aqui. Ela é a minha inspiração.

Porém, há outras duas bailarinas que estão além da inspiração na minha vida: Carla Fracci e Margot Fonteyn. Elas são o meu norte, os meus modelos, os meus exemplos na dança, o meu pote de ouro no fim do arco-íris. Se eu pudesse escolher qualquer coisa na dança, seria dançar igual a elas. Exagero, eu sei, mas eu realmente queria. Porque elas representam o ballet clássico que eu acredito.

À esquerda, Carla Fracci como Tatiana, em Onegin. Ao lado, Margot Fonteyn como Aurora, em A Bela Adormecida.

Quando eu digo que não me importo com hiperflexibilidade, não gosto de perna na orelha, tampouco de virtuosismo técnico, não é desdém com o ballet clássico realizado hoje em dia. Não é despeito de bailarina amadora frustrada. Simplesmente, nada disso me chama atenção, nem como espectadora, tampouco como bailarina. Não é isso o que eu quero assistir, muito menos como quero dançar.

Há uns meses, a revista Pointe publicou um excelente texto, cuja chamada no Twitter era “What makes a ballet dancer a ballerina?” As tradutoras-bailarinas que leem o blog concordarão comigo que existe aí uma sutileza impossível de traduzir para o português, mas seria algo do tipo “O que faz uma dançarina de ballet uma bailarina?”. Esse ballerina não se refere simplesmente à bailarina profissional, é uma alusão ao título prima ballerina; é para identificar quem mereceria ser ballerina, àquela que possui algo que a diferencia das demais. Eu vejo essa denominação como “a grande artista”. Essa questão é bem desenvolvida no texto; vocês podem lê-lo, em inglês, aqui.

Este é o meu grande desejo não realizado na vida: ser uma ballerina. Carla Fracci e Margot Fonteyn foram e meus olhos brilham quando as vejo dançar. É quando me reconheço e entendo por que o ballet clássico é tão importante na minha vida. Confesso, foi duro reconhecer essa frustração, mas aprendi a conviver com ela.

Nunca chegarei nesse patamar, mas eu tento. Quando estou na barra fixa, quando giro no centro, quando ouço repertórios, elas são o meu espelho. Porque elas existiram, eu me recuso a desistir.

* * *

Para vê-las dançar:

Carla Fracci e Erik Bruhn, grand pas de deux do segundo ato, Giselle, aqui.
Margot Fonteyn e Rudolf Nureyev, pas de deux do quarto ato, O lago dos cisnes, aqui.

“Bailarina tem de ser novinha!”

“É preciso ser nova para dançar ballet clássico!” Por favor, antes de concordar ou discordar da afirmação, ou colocarem suas ressalvas, assistam aos vídeos a seguir.

Aurélie Dupont, 2012, aos 39 anos.

Sylvie Guillem, 2011, aos 46 anos.

Margot Fonteyn, 1966, aos 47 anos.

Maya Plisetskaya, 1986, aos 61 anos.

Sim, todas elas têm muitos anos de treino, mas vejamos um pouco além. Elas mostram o quanto estão bem capazes fisicamente. Não só, vemos aí o auge da maturidade artística.

Por isso, antes de proferir qualquer crítica a respeito de quem começou depois dos 20 e poucos anos, estudem história do ballet clássico. Isso ajuda, e muito!, a argumentar com propriedade. De “eu acho” o mundo já está cheio.

O adágio da rosa

Se pensarmos nos ballets de repertório, geralmente os seus trechos mais famosos são variações ou grand pas de deux. Às vezes, um pas de quatre, como o de O lago dos cisnes.

Posso estar enganada, mas em A Bela Adormecida, nenhuma parte é tão famosa quanto “O adágio da rosa”, momento em que Aurora dança com quatro príncipes no seu aniversário de 16 anos.

Não sou uma fã ardorosa desse ballet, mas esse adágio é um dos poucos momentos de Aurora que eu gostaria de dançar.

Margot Fonteyn, Royal Ballet, 1955.
(Infelizmente, falta o começo da coreografia.)

Aurélie Dupont, Ópera de Paris, 2000.
(O entrance de Aurora veio de brinde.)

Sofiane Sylve, Dutch National Ballet, 2003.

Essas três são as minhas montagens e bailarinas preferidas para essa coreografia.