Uma pausa de quatro minutos para um pas de deux de Dances at a Gathering (1969), de Jerome Robbins, feito para o New York City Ballet. Aqui, a montagem é do The Royal Ballet, com Francesca Hayward (Mauve) e William Bracewell (Green).
Uma delicadeza para deixar o dia de vocês mais bonito.
“Pas de deux”, Dances at a Gathering (1969), The Royal Ballet, Francesca Hayward e William Bracewell.
Eu sou fascinada por água, ela sempre está presente nos meus textos ficcionais. O meu livro Virgínia (2015) começa com a protagonista submergindo em um lago. Por outro lado, não me peça para nadar ou mergulhar, o meu encantamento é olhar de fora. Sendo assim, não é difícil imaginar por que esses dois curta-metragens de dança prenderam a minha atenção.
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Ama (2018), de Julie Gautier
Inspirada pelas japonesas que coletam pérolas no mar, a cineasta e mergulhadora Julie Gautier é a protagonista desta obra, em que dança a 10 metros de profundidade sem qualquer equipamento para respirar. Foram vários mergulhos curtos até completar a duração do vídeo, de seis minutos. A coreografia é de Ophélie Longuet. O resultado é arrasador, eu fiquei imensamente emocionada.
Na descrição do vídeo, ela diz: “Ama é um filme mudo. Ele conta uma história que cada um pode interpretar a sua própria maneira, baseado em sua própria experiência. Não há imposição, apenas sugestões. Eu queria compartilhar a minha maior dor nesta vida com este filme. Para não ser muito cru, eu cobri com graça. Para não ficar muito pesado, eu mergulhei na água. Eu dedico este filme a todas as mulheres do mundo”.
Para assistir ao making off, aqui. Em 2020, foi lançada uma versão com outra música. Para assistir, aqui. Para saber mais, aqui.
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Sink or Swim (2017), de Louis-Jack
Como é a sensação de uma pessoa com depressão? Partindo dessa premissa e inspirado no quadro Sink or Swim (2014), de Ian Cumberland, surgiu este filme com ideia original e coreografia de Charlotte Edmonds e direção de Louis-Jack. Protagonizado pela bailarina Francesca Hayward, o curta-metragem contou com o apoio do The Royal Ballet, Studio Wayne McGregor e Mind (organização de apoio à saúde mental).
Segundo as palavras de Charlotte Edmonds: “Eu sempre usei a dança para expressar minhas emoções e preocupações. Eu a uso como um veículo para retratar um tema vívido na minha mente. Durante o treinamento, passei por fases em que eu cheguei ao fundo do poço. Eu me vi sofrendo em silêncio e nunca senti coragem de falar. É por isso que eu sou apaixonada por este filme – não deveria haver vergonha em admitir que você não consegue manter sua cabeça acima da água”.
Qualquer pessoa que já passou por isso reconhece essa sensação, não só, mas se reconhece nessa mulher que não consegue emergir. O resultado é de uma beleza ímpar.
Francesca Hayward, Vogue UK, setembro 2019. Foto: Peter Lindbergh.
Nascida em Nairóbi, no Quênia, o seu pai é inglês e a sua mãe é queniana. Aos dois anos, ela se mudou para a Inglaterra e pouco depois começou suas aulas de dança em uma escola da cidade. Ingressou no Royal Ballet School aos 11 anos, dali entrou na companhia e passou por todos os níveis da hierarquia até chegar a primeira-bailarina aos 24 anos.
Eu tenho muito orgulho da cor da minha pele e que eu esteja inspirando pessoas de todas as origens. Mas eu acho que será ótimo para a próxima primeira-bailarina mestiça ou negra se ela não tiver de ser perguntada sobre isso. No ballet, não importa quem você é. Se você é boa, isso é algo raro, tão incomum, que o talento irá para onde você quiser ir.”
Eu diria que minha força para mudança seria todas as crianças que escrevem para mim e me dizem que elas estão inspiradas para dançar e têm uma grande paixão por isso, e eu quero mostrar a elas que dança é para todos. Não importa quanto dinheiro você tem ou de onde você vem ou de qual raça você é.”
O tema da capa é “Forces for Change” ou “Forças para mudança”. Alguém duvida que a Francesca está fazendo justamente isso?
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Para ler a matéria completa, em inglês, aqui.
Para assistir ao vídeo, em inglês, aqui.