Pina Bausch, a minha mais nova inspiração

“Eu não estou interessada em como as pessoas se movem, mas no que as movem.”
Pina Bausch (1940-2009)

Publiquei dois posts sobre o documentário Pina (aqui e aqui), mas ainda não havia assistido ao filme. Eu o assisti há pouco tempo e fiquei absolutamente impressionada.

Resumidamente, eu soube da existência de Pina Bausch em 2002, nas minhas aulas de expressão corporal no curso de teatro. A minha então professora tem uma companhia de teatro-dança e é uma apaixonada pelo assunto. Até suas aulas eram voltadas a isso. Na época, eu não era muito fã, mas lembro de um espetáculo que assistimos na aula e fiquei encantada. Mas parou por aí.

Anos depois, assisti ao filme Fale com ela, de Pedro Almodóvar. Novamente, lá estava ela. Engraçado que me identifiquei com a bailarina da história, mesmo sem nem pensar em fazer aulas de ballet clássico na época. Revi o filme tantas vezes que perdi a conta.

Depois disso, quando comecei a dançar, lia uma coisa ou outra sobre ela. Nunca vi sua companhia ao vivo, mas fiquei bem entristecida quando ela morreu. Não conhecia o seu trabalho a fundo, mas tinha claro comigo a sua importância na história da dança.

Até o dia em que vi Pina, de Wim Wenders.

O filme se resume, basicamente, a duas coisas: trechos dos espetáculos da Tanztheater Wuppertal e depoimentos dos bailarinos da companhia, cada qual em sua língua materna.

Por mais apaixonada que eu seja por ballet clássico, não me identifico com sua segregação, como vocês bem sabem. Não sou, nem nunca fui, uma entusiasta da aristocracia, eu acredito na igualdade. Digo isso para vocês entenderem que seria impossível não me encontrar ao ver a dança de uma maneira tão agregadora.

Para começar, os bailarinos são completamente diferentes uns dos outros. No jeito, no corpo, no país de origem, na idade. Todos dançando de igual para igual. Além disso, em seus espetáculos, Pina Bausch falava de todos nós. Não há como não se reconhecer em algum momento, nos vemos em sua obra, também estamos no palco de alguma maneira. Como não amá-la?

Outro ponto de admiração: ela quase não falava. Ela assistia a tudo e pontuava raramente, uma indicação ou outra. Lição valiosa para o mundo da dança.

Pina Bausch ganhou mais uma admiradora, que se debruçará sobre seu trabalho com curiosidade e amor.

*

A querida Camila compartilhou no Facebook este flash mob realizado por conta do filme. Belíssima homenagem. E a vontade de dançar também?

O ballet como coadjuvante da história

Eu sou uma apaixonada por cinema há muito tempo e tenho uma lista de filmes queridos. Para constar na lista eu tenho de querer revê-los sempre. E isso é raro para mim, não costumo rever filmes, tampouco reler livros.

Entre os meus dez preferidos, dois têm mulheres adultas que fazem ballet clássico. Não são filmes sobre dança, ela apenas faz parte da história de alguma maneira.

Fale com ela (Hable con ella, 2002)

Do espanhol Pedro Almodóvar, o filme conta a história de Benigno, enfermeiro que se apaixona pela bailarina Alicia, que faz aulas no estúdio em frente ao seu apartamento; e Marco, jornalista que namora a toureira Lydia. As duas sofrem acidentes e os dois se encontram no hospital. O filme já começa com Pina Bausch no palco. Assisti tantas vezes que perdi a conta.

A fraternidade é vermelha (Rouge, 1994)

Do polonês Krzysztof Kieślowski, o filme conta a história da modelo Valentine e seu encontro inusitado com um juiz aposentado. Terceiro filme da Trilogia das Cores (Bleu, Blanc, Rouge), é o meu filme preferido. Eu me identifiquei com a personagem logo nos primeiros minutos e quando ela aparece em plena aula de ballet, soltei um suspiro profundo. Na cena em questão, há várias adultas e percebemos claramente que ninguém ali é profissional. Não é um filme fácil, o final é metafórico, além de ser muito mais interessante para quem assistiu aos outros dois (apesar de não serem sequenciais). Sou suspeita para falar, porque amo esse filme de todo coração.

É bacana perceber que o ballet é apenas uma parte da vida dessas personagens. Da mesma maneira que acontece na vida da maioria de nós.

Janelas e sapatilhas

Não lembro quando assisti ao filme Fale com ela, mas sem dúvida foi antes de começar no ballet. É um dos meus preferidos, por mil motivos. A propósito, o filme começa com Pina Bausch no palco, no espetáculo Cafe Müller, e dois homens emocionados na plateia. E isso é apenas o começo…

O meu comentário é por outro motivo: a bailarina da história, Alicia, faz aulas numa sala incrível. Lembro do meu encantamento nas cenas em que a vemos diante de uma grande janela. Isso ficou no meu imaginário: escolas de ballet precisam de janelas e vidraças imensas.

Foto: Cena do filme Fale com ela

A minha primeira escola era numa casa adaptada. A barra ficava exatamente logo abaixo das janelas. Lembro de volta e meia olhar para o lado e perceber os olhares encantados das pessoas que passavam.

Foto: Stanislav Belyaevsky. Vaganova Ballet Academy. Olhem essa janela!

Na segunda, não era bem uma janela, mas uma vidraça. Fica numa esquina e eu sequer precisava parar e olhar o que estava acontecendo. Víamos tudo, sempre. Eu adorava ver o bairro no seu ritmo normal enquanto fazíamos nossos pliés.

Então, dia desses, eu encontrei esta foto.

Foto: Experience Parisienne. Chicago Ballet.

Meu coração amoleceu.