Iniciação em sapatilhas de ponta

Se você perguntar para qualquer bailarina iniciante qual é um dos seus maiores desejos no ballet, aposto que a resposta será: “dançar nas pontas“. É a medalha de ouro da modalidade. Geralmente, em um primeiro momento, ela não se preocupa em dançar bem ou ter domínio do uso, ela quer usar as sapatilhas.

Pois aí está o problema. Anos atrás, eu escrevi o texto “Subir na ponta é uma coisa, dançar na ponta é outra” sobre a importância de dominar a técnica de pontas. Subir é fácil, fica lindo na fotografia, mas conseguir dançar com um tijolo nos pés é outra história.

Não vou negar, eu fiquei inchada de alegria quando subi nas pontas pela primeira vez e o momento foi devidamente registrado. Mas isso durou uma meia hora, logo depois eu ensaiei a coreografia de fim de ano e a realidade pesou sob os meus ombros. Que agonia! Como vou dançar com isso? Talvez, por causa dessa experiência, eu tenha fixação por um trabalho de pontas bem-feito. Chego a suspirar profundamente: não é o colo de pé ou a marca da sapatilha, é ter domínio das pontas, que devem ser uma extensão dos pés. Gosto de dois exemplos, citados anteriormente no blog, mas que valem a repetição: as bailarinas Cassandra Trenary e Isabela Boylston.

“Tudo bem, Cássia, mas pare de sonhar e volte para a vida real. Elas são profissionais, é outra história. E quem está começando?”

Querem exemplos? Eu fico encantada com o trabalho de pontas das alunas de três grandes escolas de formação em dança do Brasil: a Escola de Dança Maria Olenewa, a Escola de Dança de São Paulo e a Escola Bolshoi Brasil. Vemos claramente um trabalho bem realizado desde o princípio. Sim, elas estão sendo formadas para serem bailarinas profissionais, foram selecionadas com esse potencial, mas quem disse que não podemos nos beneficiar do mesmo treinamento?

Neste vídeo produzido pela Escola Bolshoi Brasil, a professora Bruna Lorrenzzetti ensina os primeiros exercícios realizados pelas alunas iniciantes nas pontas. Não é para ninguém comprar as sapatilhas aleatoriamente e reproduzir em casa, hein?! Vale para quem já iniciou nas pontas. O vídeo também mostra brevemente sobre o surgimento dessas sapatilhas. Bom estudo!

Bolshoi Brasil ‒ Sapatilhas de ponta para iniciantes, 8 nov. 2019

Antes que alguém me pergunte…

Se há um termo que me incomoda demais é o tal “blogueira”. Quando me chamam assim, eu tenho um leve estremecimento. Sei que, hoje em dia, isso é praticamente uma profissão e há quem ganhe dinheiro com um blog. Não é o meu caso. Eu sou revisora e preparadora de textos. Trabalho com livros. Ponto. Daí vem o meu sustento e gosto muito do que faço.

Mesmo assim, quando alguém conhece mais a fundo os números e alcance do meu blog, sempre surge um “ganhe dinheiro com isso”. E para explicar que não é o que eu quero?

Talvez, por eu nunca ter visto o blog como um produto – e olha que sou publicitária de formação! – não havia percebido que o utilizei no caminho inverso, para divulgar muita coisa. Escolas de ballet, por exemplo.

Durante quase três anos, mantive uma lista de escolas e estúdios do país inteiro. Fico feliz que várias pessoas começaram ou voltaram a fazer ballet por terem encontrado indicações aqui no blog. Mesmo assim, não a manterei mais. Não quero cobrar pelo espaço. Por outro lado, se divulgo as escolas gratuitamente, isso pode ser visto como um aval da minha parte. E não é o caso. Só assino embaixo e me responsabilizo por aquilo que eu faço e digo. O restante, não me diz respeito.

Dessa forma, as menções a estúdios de dança foram retirados do blog. Não há mais lista de escolas, parceria e blogs de professores que divulgam seus serviços. É uma maneira de manter a minha isenção.

Na página “Links”, mantive as grandes escolas de formação: Escola do Teatro Bolshoi no Brasil, Escola de Dança Maria Olenewa, Escola de Dança de São Paulo e Escola de Dança do Teatro Guaíra. Elas sempre terão menção irrestrita neste blog. Ademais, eu posso divulgar cursos de outras escolas e estúdios, desde que eu ache pertinente, mas sem ganhar um centavo por isso.

Não, não aconteceu nada para que eu tomasse essa atitude. Só não quis mais que o Dos passos de bailarina também fosse utilizado para divulgação. Espero, sinceramente, que vocês entendam isso.

Agora, voltemos à programação normal.

Vamos esclarecer uma coisa

Imagino o quanto é complicado para quem ainda sonha em ser bailarina profissional, ler o post publicado semana passada. Eu também ficava brava com isso, mesmo querendo outra coisa. Já cheguei a criticar uma professora de um curso teórico porque ela havia falado sobre a questão da excelência física. Ela tem de ballet clássico mais do que eu tenho de vida, mas não tive humildade para aceitar que ela tem toda razão.

Sendo assim, vou deixar claro uma coisa. Quando eu disse bailarina profissional, me referi a grandes companhias de ballet clássico. Traduzindo: não, você não conseguirá ser primeira-bailarina do Royal Ballet, Bolshoi Ballet, Ópera de Paris, Kirov Ballet, American Ballet Theatre se começou a dançar aos 25 anos. Você não será primeira-bailarina de nenhuma dessas companhias se não tem o perfil físico exigido para tal. Também não participará das audições dos cursos regulares profissionalizantes da Escola Estadual de Danças Maria Olenewa, Escola Municipal de Bailado de São Paulo, Escola do Teatro Bolshoi no Brasil se você não é mais uma menina.

Em momento algum eu disse que você não pode:

  • Abrir sua própria companhia.
  • Estudar e se dedicar para ser professora de ballet clássico.
  • Conseguir o seu DRT no Sindicato de Dança da sua cidade.
  • Se formar em um curso regular de ballet clássico.
  • Se profissionalizar em outras danças e participar de suas respectivas companhias.
  • Fazer as suas aulas e se apresentar lindamente no palco.

Ultimamente, as visitas ao blog giram em torno de 14 mil acessos mensais. Ou seja, eu preciso ter responsabilidade. Não dá para simplesmente dizer a cada bailarina que chega aqui: “Vamos lá, você conseguirá o que quer com toda a certeza”.

Não funciona assim. A vida não é assim.

O que vocês conseguirão no ballet clássico é responsabilidade de cada uma. Se há histórias que vão além do senso comum, é excelente que existam. Porém, quando tantas bailarinas chegam aqui querendo saber sobre profissionalização, tenho de contar como algumas coisas funcionam. Eu não fico elucubrando sobre o ballet, eu estudo para publicar aqui. Compro livros, faço cursos, pesquiso, converso com outras bailarinas, converso com professoras. Mudo de ideia sempre, porque o conhecimento nos traz isso. E, principalmente, a humildade para aceitar que sabemos muito, muito pouco. Quem acha que está sempre certo, jamais muda de ideia, mesmo que todos lhe digam que a realidade é diferente.

Há quem passe a vida sonhando, há quem transforme a própria realidade. Eu admiro as pessoas do segundo grupo. Sinto muito, mas a torcida empolgada, sem fundamento, vocês nunca encontrarão aqui.