Para descansar o coração

Houve um tempo em que eu assistia a vídeos de ballet para acalmar meu coração. Curto ou longo, não importava, era o meu respiro no dia.

Já contei algumas vezes que o ballet e eu estamos distantes, ele parece um outro mundo para mim. Parecia. Pesquisando nos meus arquivos, para publicar no blog, encontrei um vídeo há muito tempo guardado. Assisti do começo ao fim e fiquei feito manteiga derretida sob o sol do meio-dia. A música, a coreografia, as bailarinas, o som das sapatilhas de ponta batendo no palco. Uma delicadeza.

Onze anos atrás eu escrevi o texto “Da solidão” ao som dessa mesma música. Pelo visto, ela tem algum encanto sobre mim.

Hoje não tem texto longo, hoje não tem questionamento, hoje não tem informação. Como muitas pessoas, estou cansada, muito cansada. Quem compartilha desse mesmo sentimento, que essa delicadeza também acalme o seu coração.

Clair de lune, coreografia de Maria Chugai, Het Nationale Ballet/Dutch National Ballet, 2016.
Para assistir a um vídeo dos ensaios, aqui.

Onde elas estão?

Há quase cinco anos, escrevi um dos textos mais acessados do blog, “As bailarinas negras e o ballet clássico“. Além de fazer um breve panorama sobre o assunto, falei a respeito de quatro bailarinas do passado (Janet Collins, Raven Wilkinson, Lauren Anderson e Aesha Ash) e quatro bailarinas que estavam ganhando cada vez mais espaço no mundo do ballet clássico (Misty Copeland, Céline Gittens, Michaela DePrince e Precious Adams). Hoje, onde estão essas bailarinas?

Misty Copeland
De solista a primeira-bailarina do American Ballet Theatre

Depois de muitos questionamentos sobre a demora de sua nomeação, Misty Copeland finalmente chegou ao mais alto posto da companhia em 2015, pouco tempo depois da publicação do texto. Na época, lembro de alguns comentários pejorativos, como se ela não fosse merecedora da promoção. Na verdade, comentários racistas, porque ela tem apuro técnico, talento e um físico impecável. Além disso, sua influência vai além dos palcos, ela é uma ativista pela inclusão de meninas negras na dança. Há quem a chame de midiática, eu chamo de reconhecimento mesmo. Atualmente, será que alguma bailarina consegue ter o alcance popular que a Misty conseguiu? Acredito que não.

Perfil no site da companhia, aqui.
Site pessoal, aqui.
Instagram, aqui.

Trechos de Romeu e Julieta, Tchaikovsky pas de deux e Cisne branco, Misty Copeland, Vail Dance, 2015.

Céline Gittens
De solista a primeira-bailarina do Birmingham Royal Ballet

Confesso, eu acreditava que a Céline Gittens chegaria a primeira-bailarina antes da Misty Copeland, mas isso aconteceu um ano depois, em 2016. Delicada, técnica, eu gosto demais de vê-la dançar. Ela não tem tanta projeção quanto as outras três, mas quem se importa? Continua sendo uma grande bailarina.

Perfil no site da companhia, aqui.
Instagram, aqui.

Céline Gittens, “Variação do cisne branco”, O lago dos cisnes, Birmingham Royal Ballet, 2019.

Michaela DePrince
Da companhia jovem à solista do Dutch National Ballet

Na época do texto, a Michaela sequer fazia parte da companhia principal, em pouco tempo, ingressou no corpo de baile e subiu na hierarquia até chegar a solista. Fala-se muito sobre a “força de sua história”, mas nesta palestra ela conta o grau de violência e abandono pelos quais ela passou. “Vocês acham que é um conto de fadas?”, ela pergunta depois de contar a sua vida. Não, não é. Além disso, o grande destaque deveria ser a sua carreira. Não há dúvidas de que o posto máximo da companhia é questão de tempo.

Perfil no site da companhia, aqui.
Site pessoal, aqui.
Instagram, aqui.

Coreografia de Peter Leung/House of Makers, Michaela DePrince, Women in the World, 2015.

Precious Adams
De corpo de baile a first artist do English National Ballet

A Precious Adams estudou no Bolshoi Ballet Academy, foi uma das vencedoras do Prix de Lausanne, mas em cinco anos ela subiu apenas um posto na companhia (first artist está entre corpo de baile e demi-solista). Na minha opinião, ela é a mais técnica das quatro, eu sempre fico impressionada ao vê-la dançar. Será que está faltando presença em cena ou as coisas são mesmo mais lentas pelas mãos da Tamara Rojo, a diretora da companhia?

Perfil no site da companhia, aqui.
Instagram, aqui.

“Pas de deux”, Harlequinade, Precious Adams e Fernando Carratalá Coloma, English National Ballet, 2018.

Esse breve texto não é nada perto das discussões e informações necessárias a respeito do racismo na dança. Por isso, recomendo também outros quatro posts do blog:

Vamos ler, ouvir, discutir, compartilhar. O racismo é um problema nosso e deve ser combatido até o seu fim.

O Brasil no Benois de la danse

Guardadas as devidas proporções, o prêmio Benois de la danse seria o Oscar da dança. Entregue desde 1992 pela International Dance Union, em Moscou, o júri é composto por artistas renomados da dança ao redor do mundo.

Como não poderia ser diferente, o anúncio dos vencedores e vencedoras acontecerá em uma gala no Teatro Bolshoi no dia 5 de junho; no dia seguinte, haverá mais uma gala, agora com artistas vencedores de outras edições.

Quem quiser saber quem já ganhou nos anos anteriores, aqui.

Há artistas brasileiros indicados em alguma categoria? Sim, e estamos bem representados:

Amanda Gomes, melhor bailarina, papel-título de Esmeralda, Ópera de Kazan.
Daniel Camargo, melhor bailarino, solista em “Chamber Symphony”, de Shostakovich Trilogy, Het Nationale Ballet/Dutch National Ballet; Solor de La bayadère, Tokyo Ballet.
Deborah Colker, melhor coreógrafa, por Cão sem plumas.
Jorge Dü Peixe, melhor compositor, por Cão sem plumas.
Berna Ceppas, melhor compositor, por Cão sem plumas.
Gringo Cardia, melhor cenógrafo, por Cão sem plumas.
Além disso, Nora Esteves compõe o júri.

A lista completa de indicados e indicadas, aqui.

Boa sorte a todos vocês!