Ter o domínio da coreografia

Eu não me apresento há quatro anos e não senti que passou tanto tempo. Na mesma época, contei que preferia aulas a apresentações e olha só o que aconteceu… Estudo técnica clássica com afinco, mas nada de palco. Quem mandou?

Por outro lado, vários estúdios de dança estão em período de ensaios para as apresentações de fim de ano. Pensando em um texto sobre isso, resolvi falar sobre algo que sempre acreditei: a importância de dominar a coreografia.

O que quero dizer com isso? Além de decorar a sequência de passos, saber realizá-los sem titubear.

Vou dar um exemplo. Na minha primeira apresentação de ballet clássico, eu não sabia fazer pirueta. Adivinha como a coreografia terminava? Cinco bailarinas, as piruetas foram realizadas na sequência, cada qual no seu momento. Todas juntas ainda daria para enrolar, mas sozinha? Suei frio, tive palpitações, não dormi na noite anterior, passei dias imaginando como seria se desequilibrar e cair no palco. Hoje parece engraçado, mas seria a minha primeira apresentação de dança e ainda com um passo que eu não sabia fazer? No dia, a pirueta deu certo. Totalmente descompassada, mas pelo menos eu não caí.

Nas minhas outras apresentações de ballet clássico, não passei tamanha angústia, mas nunca sorri ou aproveitei o momento. Nas outras danças, eu me sentia tranquila, mas ballet era um tormento. Talvez por isso eu dizia que não gostava de me apresentar. Eu não gostava era de sentir angústia.

E por que com as outras danças era diferente? Porque eu sabia muito bem o que estava fazendo.

No filme sobre a Margot Fonteyn, realizado pela BBC Four, o Nureyev pergunta como ela fazia os fouettés. Margot respondeu que simplesmente os fazia, poderiam dar certo ou não. Então, ele a ensinou a dominar os fouettés. E a minha vontade de abraçar o Nureyev nessa hora?

Claro, cada apresentação é única. Como estamos falando de uma arte que tem no corpo o seu instrumento, ele pode falhar. Dormiu mal, está sentindo dor, brigou seriamente com alguém no mesmo dia, tudo isso pode atrapalhar. Mas é diferente de pisar no palco e pensar: “Vamos ver se hoje a pirueta sai!”. Não, né? Existe técnica, existe um movimento com começo-meio-fim, existe uma maneira de realizá-lo. Não dá para jogar com a sorte, afinal, estudamos muito para dançar minimamente bem.

Além disso, há outro ponto. Quando não nos preocupamos com os passos, quando a coreografia está tão assimilada que não pensamos nela, a meu ver, dançamos melhor. Porque a concentração muda de foco. O palco, o momento, o sorriso, a expressão. Não pensamos mais em acertar a coreografia, pensamos apenas em dançá-la e isso faz toda a diferença.

Sim, eu sei que não somos as responsáveis pelas coreografias ou pelo número de ensaios. Mas se a coreografia for muito complicada ou os ensaios forem insuficientes, estudem sozinhas. Descobriram como surgiu o meu estudo solitário? Foi porque uma professora colocou em uma coreografia a pirueta que eu não sabia fazer.

Contei outro dia sobre o meu sonho, eu dançaria a Fada Lilás. Momentos antes de acordar, enquanto eu terminava de arrumar o coque, eu dizia para mim mesma: “Não precisa ter medo, aproveite o momento porque você sabe o que fazer”. Até o meu inconsciente acredita na importância de dominar a coreografia.

O coque perfeito

Ao longo desses anos, eu publiquei apenas um post sobre coque. Não só, um post preguiçoso de doer. Até que, vendo fotos dos lindos penteados da Julia Petit, eu me deparei com o estilo de coque que costumamos fazer. Mas não era qualquer um, era “o” coque.

Julia Petit. Fonte: Petiscos.

Ele não é o coque perfeito à toa, há detalhes que fazem toda a diferença. Ela não usou gel, mas um xampu em spray, que tira a oleosidade e resseca as pontas. Isso é importante para domar os cabelos e segurar o coque no lugar. Ela não usou pente, para não deixar marcas no cabelo, mas uma escova de cerdas fechadas e sem bolinhas nas pontas. Depois, ela usou muito spray fixador. Para prender, elástico com gancho e grampos invisíveis.

“Eu não tenho tudo isso, e agora?” Calma.

É possível domar os cabelos apenas com spray fixador. Eu não uso gel, apenas o spray, mas o meu cabelo é crespo. Quem tiver cabelo liso, experimente o spray com fixação forte. Se mesmo assim alguém tiver um receio imenso do cabelo soltar, use um pouquinho de creme fixador (também conhecido como pomada). Para prender o coque, alarguem os grampos comuns: basta abri-los um pouco, o suficiente para segurar o coque, mas sem apertar o cabelo. Acreditem, dá certo. Para pentear os cabelos, só mesmo com essa escova, mas é  bem fácil de encontrar. Por último, é possível usar qualquer elástico de cabelo.

Agora, a melhor parte: Julia Petit explicando o passo a passo. Não é possível assistir diretamente no blog, apenas no YouTube, aqui.

Alguma dúvida?

“Smash” e o palco

Diferentemente do teatro, na dança não é comum as pessoas expressarem seu amor pelo palco. Existe uma ode ao movimento, aos aplausos, aos momentos na barra fixa, no caso do ballet clássico, mas raramente ouço sobre essa relação entre palco e artista. Eu acho que tudo começa e termina ali. Compreendo quem dança e não pensa da mesma maneira, mas nas artes cênicas, é ali que tudo acontece. De um lado, alguém faz a sua arte. Do outro lado, alguém recebe essa arte. A mágica acontece nesse espaço de troca. Sem a plateia, as artes cênicas existem? Por isso, tenho um profundo amor e respeito pelo teatro.

Esse foi um dos aspectos presentes nas duas temporadas da série “Smash”, que terminou essa semana. E no último episódio, um trecho do discurso da personagem Ivy Linn no momento em que ela recebeu o Tony de melhor atriz me tocou imensamente. Eu concordo com cada palavra.

“Para mim, não há nada mais mágico do que o momento em que diminuem as luzes e a plateia espera ansiosa, em silêncio, para que o espetáculo comece. É um momento cheio de esperança e possibilidades. Então, gostaria de agradecer à plateia por vir e acreditar, como eu, que não há nada mais importante ou especial que o teatro ao vivo.”

Ivy Linn, episódio final de “Smash”.

Talvez por isso, a sequência mais significativa do último episódio foi a primeira, quando todos os personagens principais da série terminam no palco. Quem quiser assistir, aqui.

Mas há outra cena linda, que combina mais com o blog, quando o elenco de um dos musicais concorrentes ao Tony canta “Broadway, Here I Come!” (Broadway, aqui vou eu!). Afinal, todos nós temos um lugar no qual queremos chegar: pode ser a sala de aula, o espetáculo de fim de ano, o palco. Cada qual escolhe a sua Broadway para sonhar.

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Quem quiser assistir à cena no YouTube, sem legendas, aqui.