Ao longo desses anos, já fiz vários posts sobre meus preferidos: variações, pas de deux, personagens coadjuvantes, coreografia em grupo e mais algum que devo ter esquecido. Mas hoje, não. Hoje o post é diferente.
Há coreografias que nos encantam pelos mais diversos motivos, ou porque gostamos muito daquela modalidade, ou porque nos identificamos com aquela dança, ou porque ela nos remete a alguma coisa, enfim, infinitas possibilidades. Ou, às vezes, o motivo é desconhecido, mas o encanto vem e fica.
Não lembro o ano, mas faz tempo. Não lembro o como, mas deve ter sido sem querer. Não me perguntem quantas vezes eu assisti, porque é impossível contar. Só tenho certeza de uma coisa: eu me apaixonei à primeira vista.
Eu sou fascinada por “Echad Mi Yodea”, do espetáculo Decadance, do Batsheva Dance Company. A coreografia é de Ohad Naharin. Eu assisti ao espetáculo completo mas, para mim, essa coreografia é uma obra em si, com começo, meio e fim.
“Echad Mi Yodea”, Decadance, de Ohad Naharin, Batsheva Dance Companhy/The Young Ensemble
A disposição das cadeiras. A música. Os movimentos no tempo da música. A coreografia impecável. Prestem atenção na genialidade da construção: um novo movimento é inserido sempre no início da sequência e o restante dos movimentos se repetem. Ou seja, a cada recomeço, nos surpreendemos e depois reconhecemos. No final, já temos intimidade com a coreografia. Sem falar que meus olhos fixam tanto no bailarino que sobe na cadeira quanto no bailarino que cai no chão. Toda vez. Além disso, eu canto a música e não sei absolutamente nada de hebraico.
Hoje parece óbvio eu me encantar por uma coreografia de dança contemporânea, mas na época em que conheci o Batsheva Dance Company, eu não estava fazendo aulas de ballet clássico, mas só queria saber dele. (Encontrei no Twitter o dia em que publiquei sobre essa coreografia!) Eu me encantar por algo assim, tão fora da curva, tão distante da minha bolha, foi um grande feito do Ohad Naharin.
Talvez tenha sido nesse momento que os meus olhos se abriram a outras possibilidades. Talvez tenha sido essa coreografia que me mostrou um outro mundo na dança. Passei anos tendo o ballet clássico como a dança principal da minha vida e hoje vejo isso como um erro, sabia? Posso ter perdido algumas coisas muito interessantes pelo caminho, pela simples desatenção.
Não, não falei para ninguém abandonar as sapatilhas, calma. Mas, às vezes, olhar para o lado pode fazer uma imensa diferença. Na dança e na vida.
Acho que, no fundo, a gente gosta de ballet porque gosta de dançar, e a gente não gosta de outras danças porque nem tentou outra ainda 😉 heheh