Em uma aula de psicologia no meu primeiro ano da faculdade, o professor nos disse que uma pessoa só pede opinião de outra quando já sabe o que fazer. Ela só quer uma confirmação.
Sempre me lembro disso quando recebo e-mails de pessoas que me perguntam o que elas devem fazer, mas ainda me surpreendo quando me pedem certeza de alguma coisa. “Cássia, se eu começar a fazer ballet, dançarei nas pontas?” “Eu tenho 16 anos, serei profissional?” “Minha filha dança muito bem, ela será primeira-bailarina?”
Eu respondo sempre, mas eu deveria ter uma resposta-padrão: Não sei. Porque não temos garantia de nada na vida. Cabe a cada um fazer a sua parte e torcer pelo melhor. Sei que as pessoas não querem uma resposta 100% certeira, mas indicativos de que tudo dará certo. Mas isso é impossível.
Mesmo que tantas escolas de dança tenham suas turmas de adultos, ainda há receios e preconceito em começar ou voltar depois de uma determinada idade. Mesmo existindo várias escolas de formação e tantas bailarinas e bailarinos se formando todos os anos, há um abismo entre terminar o curso regular e ser profissional. Agradeço a confiança, mas as minhas respostas nunca aliviarão essas questões. Seguir adiante com o seu desejo só diz respeito a você.
De maneira clara, ou sutilmente, há quatro anos eu digo a mesma coisa: Dancemos. Ninguém nunca ouvirá de mim: “Esqueça, nem pense em dançar!”, porque seria contradizer tudo o que sempre defendi. Mesmo assim, sou terminantemente contra essa corrente autoajuda de que basta querer para conseguir. Mentira! Tantas pessoas dedicaram boa parte da vida à dança e tiveram de seguir outros caminhos. Tantas outras passaram dias, meses, anos dançando e nunca alcançaram o nível técnico que desejaram. Vocês sabem disso. E tratar todos esses bailarinos e bailarinas como fracassados que não lutaram o suficiente me dá enjoo. Porque não é assim. Não temos controle sobre os acontecimentos. Garantimos a nossa parte. E a outra, quem garante?
Entendo que as pessoas queiram certezas. Sim, você vai dançar nas pontas. Sim, você será profissional. Sim, sua filha será primeira-bailarina. Mas quão leviana eu seria se dissesse isso? Não tenho nem como garantir os resultados da minha vida. Há pessoas que começaram a dançar na mesma época que eu e estão infinitamente melhores. Algumas desistiram. Outras seguiram novos caminhos. Eu, além de dançar, passei a escrever sobre o assunto. Mas, há seis anos, ninguém sabia disso. Lembram quando escrevi um post sobre cada qual ter a sua história? A minha é minha, a sua é sua, e assim caminhamos.
Compreendo toda essa angústia, mas no fim das contas a resposta é sempre a mesma: “Sim, dance!”. Mas não sou eu quem deveria lhe dizer isso. Essa resposta deveria vir de você e de mais ninguém.
Eu fui uma dessas pessoas que enviou e-mail (há pouco mais de 1 ano). Pela minha experiência, de fato, mandei e-mail quando a vontade de entrar para esse mundo já era mais forte que eu. Queria alguém para me dizer que no meu caso específico também era possível. Hoje vejo que é tudo tão simples: você quer dançar, dance! Mas acho que essas perguntas, essas dúvidas… são reflexos dos receios que criamos após tantos anos de “não dá”, “não pode”, “não há tempo”, “você está velha demais”. É difícil vencer esse receio, essa barreira de proteção contra os “nãos” que a gente cria ao longo dos anos.
E é justamente isso. Mandamos um e-mail com a pergunta: “eu posso?”. Mas na verdade é um pedido: “eu posso, por favor?” Não que você tenha o poder de dizer se pode ou não. Mas porque você é alguém que sempre vai dizer “sim” e é isso que precisamos ouvir para criarmos coragem.
Obrigada pela coragem. Você está do outro lado do país, mas foi determinante na realização desse sonho. Vou sempre ser muito grata por isso, Cássia.
Beijos, beijos.
Mônica, que delicadeza o seu comentário. =] Lembro do seu primeiro e-mail, lembro quando você começou a fazer aulas e fiquei muito feliz quando tudo deu certo. Claro, jamais pensei que tenho o “poder” de qualquer coisa, mas eu incentivo mesmo. Explico os poréns que, a meu ver, podem existir em cada situação, mas sempre termino com o “sim”, porque realmente podemos dançar. Imagina, grata sou eu por você compartilhar suas alegrias comigo e por estar sempre presente por aqui.
Imenso beijo.
Verdade absoluta quem nos dera prever e ter certeza de tudo! Imagino as perguntas q vc deve receber acerca de várias dúvidas…
Eu com meus 43 aninhos sei bem q temos q fazer a nossa parte e deixar o destino trabalhar com 1 ano de aulas e realizando um desejo de criança nem me atrevo a querer ter certezas…minha única certeza é continuar até meu corpo permitir e não me deixar abater por nada nem ng!
Adoro seu blog dear!
Abç
Nancy
Nancy, eu recebo as perguntas mais diversas e tento responder tudo. Só me incomodo quando as pessoas são folgadas, como se acabar com as suas dúvidas fosse a minha obrigação, mas isso é raríssimo acontecer. A intenção do post foi falar com aquelas pessoas que querem dançar, estão cheias de dúvidas, mas ficam com receio de me escrever. E também para diminuir essa angústia de querer a certeza das coisas, angústia que também tenho, mas sei que não adianta. E adorei ouvir isso: “continuar até meu corpo permitir”. =] E que assim seja!
Imenso beijo.
Tão bom seria se tivéssemos todas as certezas da vida!
Cássia você sabe das coisas!
Concordo com seu ponto de vista.
A verdade é que não podemos ter certeza de nada. Pois nada é certo, duro, estático. A vida é inconstante, e isso é bom, seria tão chato se fosse sempre do mesmo jeito, não é mesmo?!
Depois de duas semanas parada voltei para as aulas de ponta. E decidi: vou caminhar nas pontas no meu ritmo, pois isso me fará feliz.
Abraços!
Larissa, não esqueci o seu comentário anterior, viu?!, sobre seu cansaço e querer dar um tempo. Você está certíssima em querer seguir no seu ritmo, mas não estranhe quando esse cansaço surgir, é a coisa mais normal do mundo! Sabia que há momentos que nem quero saber do ballet? Descanso, vejo e leio sobre outras danças, daí nos reencontramos e fica tudo bem. O importante é não se angustiar. Se não seremos profissionais, temos todo o o tempo para aprender, correr para quê?
Beijo gigante.