O desabrochar

É senso comum dizer: “Quem dança é mais feliz”. Não sei se a questão é a felicidade, ou apenas ela. Nesses poucos anos em que eu danço, tenho percebido outra coisa. Quem dança desabrocha para a vida.

Conheço várias histórias de pessoas que mudaram seus rumos depois de começar a dançar, especialmente se isso aconteceu um pouco mais tarde. Pediram demissão, iniciaram outro curso, mudaram de carreira, terminaram um relacionamento. Além disso, se sentiram mais confiantes, seguras. Passaram a olhar o mundo de outra maneira.

Outro ponto é sentir-se dona do próprio corpo. Não falo de consciência corporal, mas nós mulheres crescemos com um discurso de ojeriza a si mesma, o quanto devemos odiar o  nosso corpo, vê-lo cheio de defeitos, tão distante da beleza e da perfeição. Ao dançar, nosso corpo se torna o instrumento da nossa arte. Sem amá-lo, não é possível dançar grandiosamente. Claro que isso é mais comum em outras danças; infelizmente, o ballet clássico continua martelando em nossos ouvidos que nosso corpo não é como deveria ser. Mas quem tem a sorte de se libertar desse discurso sente-se a mais bela das bailarinas.

Natalia Osipova, ensaio de “Romeu e Julieta”. Foto: Svetlana Tarlova.

E os homens? Tomar a decisão de finalmente dançar, de ser um bailarino mesmo com todos os preconceitos e pressões, deve dar uma imensa sensação de liberdade.

Ao começar a dançar, acho que todos nós conquistamos o “Eu posso ser o que eu quiser”. O mundo fica pequeno quando somos donos do nosso próprio caminho, especialmente se nosso destino é a dança.

10 comentários sobre “O desabrochar

  1. Tava conversando um dia desses com um amigo. Quando era iniciante no ballet e via um aluno da classe avançada super alongados fazendo grandes saltos e piruetas dizia a mim mesmo que nunca iria conseguir fazer o mesmo. Passado o tempo, muito treinamento e agora já conseguindo fazer o que era “impossível” anteriormente, a sensação realmente é de poder fazer qualquer coisa. A dança me ensinou que com paciência e muito trabalho se chega aonde quer.

  2. Isso é uma verdade do que aconteceu comigo. Eu tinha muitos problemas com dança por causa de alguns problemas pessoais do passado e muito disso tinha a ver com uma baixa auto-estima. Depois que me envolvi com ballet clássico, passei a me aceitar melhor e a ter mais amor pelo meu corpo e tudo que ele pode fazer. Além disso, me fez ter segurança para me envolver com outras danças (hoje eu danço um pouquinho de dança de salão com meu marido e faço aulas de introdução ao jazz).

    E realmente, nós mulheres temos um discurso de ódio construído sobre nosso corpo e a dança nos ajuda a libertar disso. Afinal, na dança, o corpo é instrumento e aceitá-lo é o primeiro passo para a aceitação. Claro que existe um discurso complicado no ballet em relação à perfeição do corpo, mas eu sempre acho que cabe a nós aceitar isso ou não. Eu não aceito e me sinto muito feliz assim.

  3. Cássia, gosto muito do seu blog e adorei este texto! Eu, com certeza, sou mais completa hoje! E é engraçado como, no meu círculo de amigos, na minha família e até no trabalho/faculdade, eu já sou vista como “a bailarina”, dito assim, com a boca cheia, e um orgulho tão gostoso de perceber!

    Queria saber se você ainda vai continuar com a série “diário de repertório”! Eu gostei muito do primeiro post, mas não encontrei outras entradas nos arquivos do blog!

    Beijos! =)

  4. Lindoooo Cássia! Amei este post demais! Te acompanho já há alguns anos e adoro, mas este post em especial me tocou, parece que vc estava falando da minha vida! Parabéns querida, que vc continue a nos tocar com suas palavras por muitos e muitos anos mais! Beijos

  5. Adoro os seus posts, Cássia! Você consegue traduzir a alma de quem dança como poucos.

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