Há pessoas que começam a fazer aulas de dança e assim vão por anos a fio. Outras, vivem na corda-bamba, começam, param, voltam. Geralmente, não porque querem, mas porque as circunstâncias assim exigem.
Quando ficamos sem aulas, não necessariamente paramos de dançar, ainda mais se inserimos o treino em casa na nossa rotina. Quando voltamos ao estúdio, não sentimos tanto esse hiato. O grande problema é quando o nosso corpo resolve se rebelar. Nesse caso, esqueça. A gente simplesmente para.
Quem já sofreu uma lesão ou adoeceu, sabe bem como é. Sentimos uma dupla angústia: porque nosso corpo não está 100% e porque não podemos, e não conseguimos, dançar. Além disso, quanto mais os dias passam, mais percebemos que o trabalho de tanto tempo está se esvaindo… Tente se alongar e sinta uma imensa vontade de chorar.
Das lágrimas pulamos para a raiva e queremos dançar de qualquer maneira. E nessa hora o corpo cobra alto, ele demorará muito mais para se recuperar. Eu penso da seguinte maneira: é melhor parar. Não importa se é uma lesão leve ou algo mais sério. Parar de vez. O mundo não vai acabar amanhã, vai? E se acabar, ninguém mais irá dançar.
Há várias histórias de bailarinas profissionais que pararam por um tempo por problemas de saúde. A Alina Cojocaru parou um ano por conta de uma grave lesão no pescoço. A Sarah Lamb parou pelo mesmo período, porque quebrou o pé. A Kathryn Morgan saiu do New York City Ballet para cuidar de um problema na tireoide. Todas elas voltaram a dançar.
O nosso corpo é o nosso instrumento. Sem ele, a dança não existe. Não importa se dançamos por gosto ou por profissão, cuidar da saúde é imperativo. Eu parto do princípio que ela vem em primeiro lugar. Sempre.
Mas há duas boas notícias. A primeira é que quando respeitamos essa pausa, a recuperação é muito mais rápida. Depois, não perdemos tudo o que construímos. O nosso corpo é inteligente, ele tem memória, não precisamos recomeçar do zero. Reaprendemos tudo mais rápido e, em pouco tempo, voltamos ao ponto onde estávamos.
Para quem está vivendo essa situação, o mais importante é saber que vai passar. Depois a gente voltará a dançar ainda melhor e mais feliz.
Eu distendi a perna direita num alongamento mal-feito. Isso foi terrível, porque não posso ao menos alongá-la, e vejo isso como uma regressão. Tento compensar fortalecendo e alongando a esquerda, que está bem ruinzinha. Mesmo que eu sinta uma intensa dor na coluna elevando essa perna(exceto por arabesques), e mesmo que ela não suba muito mais de 45°, eu sei que tenho de tentar. Antes ter as duas mais ou menos no mesmo nível que uma super direita e uma esquerda horrível. Apesar disso, sinto falta dos grand jetés!
O pior é quando a gente sabe que não vai dar em boa coisa e continua…
Aliás, eu só percebi o quanto eu amo o ballet quando torci o pé. Foi uma torção grave, fiquei dois dias sem nem conseguir apoiá-lo no chão pra mandar. Tinha de andar pulando. E três dias depois de conseguir, fui fazer aula.
Na hora, não doeu tanto. Mas quando cheguei em casa, estava muito inchado. Não liguei. Tomei um banho e fui dormir.
Horas depois, acordei de madrugada, gritando e chorando de dor. Cara, nem quando eu derramei café fervendo no peito eu senti tanta dor quanto senti naquela madrugada. Foi pior do que o dia da torção, era uma dor horrível misturada com cãimbra. Nem pensar direito eu conseguia.
Resultado?
Se eu não tivesse feito aula tão rápido, poderia voltar ao ballet com uma semana de repouso. Mas como fui teimosa, passei três semanas sem nem poder me alongar e tendo de pensar em cada mínimo movimento que fazia com o pé, para não doer. A única coisa que eu podia fazer era andar.
Foi nessas três semanas que eu notei o quanto o ballet me faz falta. Às vezes, eu treinava só com uma perna pra matar a saudade, assistia aulas sem fazer… Foi pouco tempo, mas mesmo assim… Nunca mais quero me machucar desse jeito de novo.
Essa coisa de parar e cuidar da saúde é sério, porque a bailarina precisa estar 100% pra se entregar totalmente a dança. Eu parei por duas vezes quando engravidei, tive meus pimpolhos e voltei, não me arrependo disso nunca, porque pra mim era importante ser mãe e constituir uma família, hj continuo dando minhas aulas e isso nunca me atrapalhou,ser mãe e bailarina era tudo que eu mais queria, e hj quero ir além disso e mostrar que eu consigo.
já passei por essa situação duas vezes. Uma foi por causa do trabalho. Passei 8 meses sem pisar numa sala de dança. A outra, foi por causa de uma cirurgia para retirada de um tumor no ovário. Nesse período, passei 2 meses parada. Mas, quando eu estava em condições físicas, eu visitava a escola de ballet só para matar a saudade do pessoal e assistir (literalmente) as aulas. Para mim foi frustrante nos dois momentos, pq eu realmente sentia falta das aulas e do ambiente da minha escola. Durante as aulas eu acabo me libertando de todo o estresse do trabalho e da correria da vida de jornalista. Ali é o meu refúgio. Mas eu entendia que, por causa da cirurgia e do tratamento, eu não podia fazer nenhum esforço porque o meu corpo não permitia e não suportaria um esforço. Então me contentava em assistir as aulas.
Atualmente, estou com a capacidade física reduzida por conta de um problema nas articulações da coxa e do joelho, devido a um erro de giro do eixo da perna nos grand écart laterais. Agora, eu que já estava praticamente lá, voltei muitos e muitos passos para trás. E como estou com a articulação inflamada, não posso continuar forçando. O jeito é não forçar até a articulação melhorar e voltar a tentar tudo de novo. Só que certo dessa vez.
É um pouco frustrante. A gente fica se perguntando “e se eu não tivesse cometido esse erro, em que nível eu estaria agora?”. Frustração. Mas é isso. Todo mundo passa por isso. Cabe a nós ter a força de vontade para superar e tentar tudo outra vez.
Cássia, parece que fez o post pra mim. Estirei a lombar há pouco tempo por conta de um cambré, e agora sinto uma frustração gigante por conta da demora da recuperação. Entre várias sessões de fisioterapia e a percepção de que meu cambré diminuiu consideravelmente, meu equilíbrio piorou e meu corpo decaiu… sobra a perseverança. O acaso bate uma vez, eu bato duas. Nada me faz desistir de dançar.