Em junho, publiquei o post A maior inimiga de uma bailarina: a soberba e falei sobre a constante comparação que as bailarinas fazem entre si, a competição, umas se acharem melhores do que as outras. Já vi isso tantas vezes que parecia ser o mais comum.
Mas, depois de escrever os posts A importância das correções e Os dois lados do respeito, percebi que esqueci daquilo que é ainda mais comum: o quanto as bailarinas se sentem frustradas e limitadas, especialmente pelas pressões que sofrem. Em geral, a autoestima no mundo do ballet é pequenina.
E como poderia ser diferente? O ballet, por si só, é difícil o suficiente para nos frustrar. Mas se fosse apenas isso, aprenderíamos a lidar. Mas não. Há os professores abusivos. Há as colegas de turma competitivas. Há nossa voz interna dizendo “Esqueça, você nunca vai conseguir”. Há a balança dizendo que estamos bem, mas há o espelho dizendo que estamos gordas. Não apenas o espelho, mas várias pessoas presentes no mesmo estúdio que nós.
Alguém já se sentiu invisível na sala de aula? Eu já. Várias vezes. Parecia que eu era o 48º cisne do corpo de baile, lá do fundo, que ninguém vê. Ninguém. E eu lá, fazendo e errando, tentando, mas né? Onde eu estava mesmo que nem o espelho me via?
Quando leio os comentários sofridos das bailarinas e leio e-mails tristes, com histórias cabeludas, eu sempre compreendo. Mas, um dia, essa sensação parou. As coisas mudaram? Não, eu mudei. Simplesmente, porque eu cansei.
Cansei de ouvir os “nãos” do ballet clássico, em todos os âmbitos possíveis. Porque eles existem e estão à espreita o tempo todo. Eu não os ouço mais. Sabem por quê? Porque eu consegui construir uma coisa chamada autoconfiança. Eu sei quem eu sou, sei o que espero do ballet e também sei até onde posso chegar.
Quer zoar com a minha cara? Zoe. Quer fingir que não me viu? Finja. Quer me dizer não? Diga. Quer falar que não posso fazer? Fale. Quer me chamar de gorda? Chame. Ah, eu sou pequena demais? Sim, sou. Você tem algum problema com isso? Eu não. Agora, se alguém tem qualquer tipo de problema e precisa descontar nos outros, eu conheço uma ótima terapeuta para indicar. É o máximo que posso fazer.
Nos últimos quatro anos e meio, eu aprendi como o ballet clássico funciona. O seu modus operandi. Sei mais do que vocês imaginam. E não brigo mais com isso, porque é maior do que eu. Dessa forma, eu vou sofrer por quê?
Ter segurança em si mesmo é coisa complicada. Demanda tempo. Mas é a melhor maneira de aproveitar não apenas a dança, mas a vida. Sem sofrimentos desnecessários. Sem choros que doem. Sem suspiros de aflição. Afinal, quem tem o direito de olhar para qualquer um aqui e desmerecer essa pessoa? Quem? Ninguém tem. E quem disser que tem, melhor repensar certas coisas, de verdade.
Este é o tipo de post que parece ter sido escrito mil vezes neste blog. De certa maneira, foi. Mas não será mais, mesmo eu sabendo de tantas bailarinas que sofrem com os acontecimentos que as deixam pequeninas de tristeza. E sabem o motivo? O mundo esmaga a gente mesmo. Nem adianta querer que seja diferente. O que muda é como agimos. Você quer se deitar no linóleo e esperar que façam fouettés em cima de você ou quer ter força e equilíbrio suficientes para girar 32 vezes sozinha?
Eu giro sozinha. Uma, duas, três, trinta e duas vezes. E vem me dizer que não posso, vem… Quero ver quem tem coragem.
Vamos todos pensar nisso daqui em diante? Ter mais segurança em quem somos. Ter audição seletiva para os impropérios. Sorrir para a dança, porque só a ela devemos nossa dedicação. O restante do mundo, bem… É o restante do mundo.
Amei o post, era o que Eu precisava
Preciso vencer a vergonha, tenho 16 anos E acabei de ir pro 5° ano de ballet( comecei com 5 anos, fui até os 11 e por falta de condições parei por 4 anos. Voltei com 15 anos no 3° e em três meses pulei pro 4°… E isso mexe MT comigo em saber que poderia estar me formando)… devido aos meus estudos, comecei a fazer aula com a turma do 8°,9° e algumas meninas já formadas que continuam fazendo aula, o problema é que eu sei fazer e consigo acompanhar a turma, mas por ver as meninas com a minha idade, se formando, com as pernas na orelha, girando MT, saltando perfeitamente eu travo de vergonha, e não sai nada na aula… Claro que tem os olhares competitivos e a pressão, mas a minha baixa autoconfiança é demais, e me faz regredir… Estou lutando contra isso!
Adorei seu texto. Dancei balé dos 10 anos aos 23. Depois enveredei pela dança contemporânea. Você expressou em palavras o que gostaria de ter sabido aos 15, teria evitado muito sofrimento. Mas posso dizer que nunca desisti da dança. Hoje com 27 dou aulas de balé para todas as idades, e busco continuar aprimorando, pois como nunca atingi o ápice dos meus sonhos tento sempre ser melhor em todos os sentidos. Como você disse, quem vai mudar não é o balé somos nós que lidamos com o balé que precisamos construir nossa auto-estima, isso também não deixa de ser um treino que o balé ´proporciona só que para a vida. Falei muito, pois suas palavras também foram fortes e sinceras. Parabéns pelo blog! Amei a idéia da barra. Achei que era muito caro!
Beijão!
Polyana.
Gosto de como escreve e do que escreve. Sua sensibilidade e maturidade me encantam. Leio sempre, e é a primeira vez que escrevo. Somos colegas de Studio, mas infelizmente não nos trombamos por lá ainda. Admiro seu trabalho no blog. Boas festas!
oi, leitora nova por aqui 😉
Amei o post! eu me sentia exatamente assim, e ficava mais chateada pq fazia tudo certo quando chegava em casa.
Eu AMEI essa frase: “Você quer se deitar no linóleo e esperar que façam fouettés em cima de você ou quer ter força e equilíbrio suficientes para girar 32 vezes sozinha?”
Disse tudo, e caiu como uma luva pra mim.
parabéns Cassia! lindo texto! acompanho teu blog a mais de um ano e quase que diariamente… e vc sempre falando aquilo que muitas de nós não temos coragem… Obrigada por ter essa coragem por todas nós bailarinas e desejo que 2012 seja cheio de coisas boas e alguns 32 fouettés hehe abraço!
Lindo post Cassia, como sempre,parece que resolvo vir ler nos dias em que os posts caem como uma luva pra mim…e hoje estava me sentindo assim, um poço de insegurança…
só tenho a te dizer, obrigada pelas palavras mesmo que elas não tenham sido completamente direcionadas a mim, foi como se estivéssemos conversando 🙂
E verdade isso acontece mesmo,as vezes num sentimos horrivel, quando pq não conseguimos fazer um movimento direito,eu faço ballet há um1 ano e 5 meses,começei tarde também,aos 19,sempre acompanho o seu blog,muitos posts interressantes,parabens!!
bjs
Nossa disse tudo !!!! obrigada !!!!tudo que eu precisa ouvir!!!!
parabéns tá muito lindo mesmo!!! e parabens pelo blog , sempre completo!!!!!
Visite meu blog : amordesonhadora.blogspot.com!!!
Bjsss
UAU!! Que texto Cássia! Genial!!
Eu voltei a fazer balé com 27 anos e desde então tenho escutado certas piadinhas de pessoas mal realizadas…aquele tipo de comentário: Vc faz Balé? Sério?
Não precisa falar mais nada, só o tom irônico já diz tudo né?
Mas to aprendendo muito a lidar com isso, e estou feliz comigo mesma…no princípio chegava até a ficar meio balançada…já cheguei a pensar em desistir, pq vc se sente ridicularizada….isso não é legal…
Mas quando eu penso no prazer que eu sinto quando estou dançando, me fortaleço mais ainda e penso comigo mesma: é isso que eu amo fazer, e ninguém vai conseguir estragar meu sonho!
Beijosss!
Fiquei até sem fôlego! Mas graças a Deus e ao apoio dos meus pais estou conseguindo desenvolver tudo o que você falou aqui no post. Um dia eu chego lá!
maravilhoso seu post Cassinha! Estive sumida ultimamente, correria por conta do ballet e do escritório (tanto que não poderei mais ir nas aulas da Karen). Mas, enfim, esse post caiu como uma luva pra mim porque acho que, dentre algumas vitórias que tive esse ano, a mais importante foi aprender a ser realista, gostar mais de mim e me dedicar, não para os outros, mas para mim mesma, para o meu ballet! Depois te mando um e-mail de final de ano, ok? Muitos beijinhos e saudades de nossas conversas!
Nossa, isso serve, eu acredito, para TODAS as bailarinas, isso é tão comum. Sem falar que para a vida, né? A forma que reagimos dentro de uma sala de aula de ballet é a forma que também reagimos aos problemas encontrados na vida.
Adorei o texto!!!