Também conhecida como orgulho, ela derruba mais que fouetté fora do eixo. Nasce sem querer, no meio de uma aula em que sua perna subiu mais que a perna da colega de turma. Ou de uma pirueta limpa e bem-feita, enquanto a bailarina ao lado se desequilibrou e quase caiu no chão.
Consegui ver daqui uns sorrisos no canto da boca, surgidos involuntariamente, enquanto vocês imaginaram o que acabei de descrever.
A soberba só existe porque nos comparamos com os outros. Uma pessoa isolada numa ilha sequer saberia o que é. Não haveria com quem se comparar. Não haveria medida.
A meu ver, a nossa derrocada no ballet clássico começa quando olhamos para o lado. Quando queremos ser melhores que todos os outros que estão presentes. Quando nosso grande oponente usa coque, presilha no cabelo, meia-calça e, olha só!, quer o solo com o qual sempre sonhamos.
Não sou de contar detalhes da minha vida pessoal, mas, neste caso, cabe ao post. Eu não sou uma pessoa competitiva. Nunca fui. Tampouco disputei algo com outra pessoa, seja emprego, homem, papel principal em peça de teatro, atenção. Nada. Todas as minhas conquistas vieram porque tinham de vir. E as perdas, algumas vieram porque joguei a toalha e me recusei a entrar no ringue.
Os louros não enchem os meus olhos. Elogios públicos não me encantam (tampouco os elogios privados). Títulos e cargos não me fazem suspirar. Eu gosto de percorrer um caminho. A chegada não me interessa, não quero erguer a taça e receber a medalha. Gosto de olhar para trás e ver as sementes que plantei dando frutos e flores. Parece demagogia, mas não é.
Por que penso assim? Sempre haverá alguém um degrau acima de nós. Sempre haverá alguém um degrau abaixo de nós. O nosso lugar dependerá da bailarina com quem compartilharemos o palco: a Svetlana Zakharova ou a colega de turma nota 6. Não é uma vida angustiante, não saber em qual momento estaremos no topo ou lá embaixo? Não é saudável viver como se estivéssemos constantemente numa trincheira, prontos para atacar.
Quem vive numa eterna disputa pode chegar ao apogeu. Geralmente, chega. Mas seus louros sempre derivam da humilhação de alguém. Pensem nisso.
Sinceramente? Eu vejo beleza na singularidade.
A sua perna não alcança a sua orelha? A da Natalia Makarova também não. Você não é en dehors? Margot Fonteyn também não era. Você não é alta e esguia? Anna Pavlova também não era. Você não é bela e, além disso, é vista como uma bailarina mediana? Agrippina Vaganova te entenderia.
Todas fazem parte da história do ballet clássico. Mas em vez de chorarem pelos cantos, foram atrás daquilo que as fazia singulares, únicas, artistas incríveis. Trabalharam para isso. E quem está focado no próprio caminho não tem tempo de olhar para os lados.
Sinceramente? Estou cansada de pessoas que passam a vida contabilizando os próprios feitos, como se estivessem eternamente em uma acirrada competição. Suba no palco e dance. Dance! É ali que reside a alma de um artista de verdade. E isso nem todo mundo está preparado para ser.
Como uma bailarina que sempre ficou atrás dos outros em materia de flexibilidade, não importa o quanto tentasse, adorei esse post. O ballet foi o que mais me mostrou que não adianta apenas querer para conseguir, porque eu sempre quis muito e nunca consegui. E eu me esforço. Chego a chorar quando não consigo. Então, aprendi a dançar porque amo, não para ser melhor que os outros. Amo ballet, amo dançar, e ainda me esforço, mas não faço de minhas derrotas o centro de minha dança.
Belas palavras!!! Inspiração para bailarinos e professores, afinal, é essa a lição que devemos dar para os nossos alunos.
Concordo que cada um deve buscar não o melhor dos outros, mas o melhor de si. Concordo mesmo. Mas “os louros” são um incentivo. Os elogios também, e não venha me dizer que não importa, porque importa. Quando você treina aquele passo complicado o dia inteiro, gosta quando a professora nota. Se não nota, até magoa. É ingenuidade pensar que não.
Muito Obrigada.. rsrsrsrsrs inclusive ja publiquei o post…. se quiser dar uma olhada entra aqui: http://projetoesapatilhas.blogspot.com/
um beijooooooo
Cássia, eu não tenho nem palvras para escrever aqui sabia. Concordo com tudo o que você disse. Quando vemos alguém melhor do que nós em algo, não temos que nos sentir mau, temos que tentar alcançá-los, dar o nosso melhor para também sermos bons naquilo. Mas não apenas pela competição, mas pela nossa própria satisfação. E dar o nosso melhor, não significa passar uma rasteira na pessoa, mas sim lutarmos, e suarmos o nosso collant para conseguirmos ralizar a melhor pirueta da nossa vida. E quando vemos laguém “pior” do que nós (e entenda “pior” como, “com mais dificuldade”, temos que estender nossa mão. Temos que ajudar aquela pessoa. Temos que dar também o nosso melhor para que aquela pessoa também consiga.
Eu fui abençoada com uma turma de ballet que é assim. Lá temos meninas excelentes, que fizeram ballet a vida inteira. e temos aquelas que comçaram a dançar com 25 anos (meu caso e de mais algumas), mas que são ajudadas pelas meninas ótimas!!!!!
Adorei seu post e peço permissão para publica-lo em meu blog!! sei que é o seu ponto de vista, mas ao meu ver é o ponto de vista mais correto a se ter, e gostaria de dividir com as minhas leitoras, claro que dados todos os créditos a você!!!!
Um grande beijo, e parabéns pelo blog maravilhos!!!!
Camila, claro, sinta-se à vontade para publicar o texto com a devida fonte. 😉 E muito obrigada pelos elogios ao blog e por estar sempre por aqui.
Grande beijo.
Concordo completamente com você. Até eu já me encontrei em situações que eu pensava em desistir de tudo porque “os outros” são melhores que eu. Também porque me acho um lixo. Mas o que não me deixa largar tudo é saber que posso melhorar, que todos somos diferentes e não se faz um espetáculo apenas com solistas, somos todos um conjunto. Todos temos espaço no palco.
Amei seu texto, seu blog. Estou seguindo. Estou meio que precisando de motivações pra continuar nessa vida, de bailarina. Beijos
Cassinha, olha esse site de ballet e design, bem teu estilo: http://www.pointeblank.co.uk/
Frases que complementam seu texto que me emocionou…
*_* Ballet é arte e arte não se compete.
*_* Que o ego de nenhum bailarino desrespeite um conjunto.
*_* O ballet não vive de solista, mas vive de conjunto.
*_* O solista só existe porque existe um corpo de baile.
… não importa se minha perna chega a 180 se meu par faz 90. O mais belo é ambos na mesma altura, na mesma sintonia, com o mesmo olhar… ❤ ❤ ❤ com o mesmo sentir.
beijo grande, carinho quente!
Se todos pensassem assim, não teria tanta gente desistindo de seu sonho ao sofrer alguma humilhação nas (infelizmente) competições da vida…..
Eu tô é precisando de mais confiança em mim! rs Porque sempre que me comparo (não tem jeito, as vezes a gente olha pra grama do vizinho), só vejo os meus defeitos… Sempre fui muito insegura. Mas, pelo menos, vivo trabalhando para melhorar. Procuro alongamentos novos, pergunto para a professora o que fazer…. E tento seguir minha estrada sozinha, focada… Bom post, Cassinha.
Beijo!
Este texto está salvo nos meus favoritos. Cássia, eu sou sua fã, realmente!
Eu penso muito nisso, que a partir do momento que a bailarina transforma a dança, que é algo tão belo, em uma competição ela perde o seu significado. O mais delicioso é brindar cada conquista, tentar ser cada vez melhor, ninguém mais ninguém menos, que si mesmo. E admirar a singularidade de cada pessoa é o primeiro passo para isso. Por que é lindo ver uma coreografia sincronizada e tudo o mais, no entanto, cada bailarina tem o seu valor não pela sequência de passos feita no tempo certo – não só isso – mas pelo modo como a faz.
Concordo com o que você disse, mas acho que sou um pouco competitiva no ballet. Sabe, 8 anos numa mesma academia, me esforçando, estudando sobre ballet e o reconhecimento é lá embaixo. Enquanto eu consigo dançar sem perder o eixo, colegas minhas não sustentam uma pirueta. E adivinha quem fica com os melhores papéis? Pois é, elas. Só fui elogiada pelos meus professores DUAS VEZES em todo esse tempo, agora quando uma colega minha acerta UM passo são milhões de elogios e palavras de incentivo. Não sei se é vaidade, soberba, mas sei que gostaria de um pouco de atenção. Só isso.
Lindissimo texto Cássia!
e muito útil! Desses pra se ler uma vez por semana, pra focar pessoas competitivas,como eu,e que tampouco aguentam mais ser assim…e voltar a focar as aulas, o aprendizado…
e obrigada vc e a Karen pelas respostas do outro post! ❤
Vou confessar eu ri no começo do post porque eu sou aquela que cai quando viro a pirueta, e não somente isso ainda levo as colegas para o chão.
E você tem razão é um problema quando nos achamos melhores e queremos ser melhores que todo mundo. Eu tenho esse problema de querer ser a melhor em tudo desde sempre, e a principal competição é comigo mesma. Mas sempre que começo a estrapolar , me achar melhor que os outros acontece algo pra me mostrar que isso não importa em nada.
Ótimo texto Cássia!
Ana
Simplesmente o melhor!!!!!!!!!!!!!
Você tem total razão! Algumas bailarinas que eu conheci mal ligavam para a dança: apenas para a competição. Queriam ser melhores do que as outras e quem via de fora tinha uma bela visão da imaturidade delas. E poxa, elas eram amigas e gostavam de dançar! Para que estragar tudo isso? Elas não se ajudavam: criticavam a colega só para mostrar que sabiam o que estava fazendo. Sinceramente? Ballet não é isso. Ballet é união com as colegas, é você pegar suas sapatilhas e sentir uma coisa que você só sente ali. É por essas e outras que eu larguei a academia que eu estava: não aguento mais competir.
Beijos!! E você está cada vez melhor, Cássia. Parabéns pelo ótimo trabalho que você faz por aqui.
Nooooossa!
com este texto, estas palavras, não tem como começar um dia ou terminar um dia com um longo pensamento.
Esse assunto me interessou muito, porque eu vejo muito isso.
Sempre vi, em todos os lugares, e quando entrei no ballet achei que seria até pior do que em lugares mais comuns.
até que não, onde eu faço, graças a Deus não é tãoo nítido isso, mas logicamente existe.
Mas hoje ler isso me deu uma certa “porrada” sabe,
eu ando tendo um problema parecido, mas ao contrario…
comparação é uma coisa horrivel, uma coisa que odeio que façam comigo, e eu semana passada me vi fazendo isso comigo mesma, quando me comparei a uma aluna da classe, por eu ter menos flexibilidade que ela; e na outra aula eu ja me vi comparando-me com todas, tipo: eu sou a pior na abertura, a unica que não consegue colocar a mão no pé e levar pro alto, e etc..
e a professora me deu uma bronca, falou p. eu não ficar olhando pros outros, os pontos fortes dos outros, e sim pros meus! meus pontos fortes! minhas habilidades! e superar minhas dificuldades!
mas mesmo assim ainda me faltava algoo, e lendo hoje, abriu os meus olhos definitivamente*
obrigada mais uma vez Cássia por vs me proporcionar e proporcionar a todas as leitoras esse sentimento maravilhoso de EU POSSO!
Meu Deuss!! Voce se superou meu bemm..Ameiii!!
E isso aiii mesmo !! Esta no caminho certo Cassia!!
Falo tanto isso …Que tem sempre alguem melhor que os melhores …Pior que os piores…Parabens lindona e bjss,
Certa bailarina,que não me recordo o nome,disse uma frase que nunca vou esquecer,pois cabe em qualquer aspecto da vida. Ela foi perguntada sobre o que fazia para ser a melhor ela respondeu: ” apenas tento ser melhor que eu mesma”.
Simplesmente maravilhoso.! Maravilhoso é ser simples…
A naturalidade está presente nos grandes e verdadeiros artistas! Estes sim, são eternos, os outros passam e não escrevem histórias. O público sempre se lembrará do artista que causou impacto na cena, pela emoção que despertou nas pessoas ao contar aquela história, quer dizer, a sua própria história!
concordo com você, e sinceramente o mundo não precisa de mais pessoas assim, sabe, gosto de pensar antes de fala, digo, no sentido de como eu me sentiria recebendo ‘este elogio ou aquela critica’, sou do tipo que guardo olhares e criticas negativas para mim mesmo, pois como eu vou evoluir se eu me achar a melhor de todas, como vou crescer ser estiver prestando atenção no outro ao lado,e se eu sou boa sempre existirá alguém melhor, por isso eu tenho que me dedicar aquilo que estou fazer e deixar um pouco o orgulho em casa guardado debaixo do travesseiro rsrsrs…
bjs e até
Cássia,
O mundo estimula essa competição ininterrupta em todos os campos da vida….Você percebe essa compulsão por compras, por ter mais, por “aparentar” que se tem e se é mais que os outros. Meu apartamento é melhor, meu carro, meu emprego, meu marido, namorado, filho, cachorro, sapo, papagaio, periquito….Minha doença é muuuuuito mais grave que a do outro, mas ainda bem que tenho 535 amigos no facebook porque assim vou me recuperar melhor…
Acho cansativo também, mas algumas pessoas tem uma insegurança abissal e a única maneira que elas encontram de maquiar isso é diminuindo outras pessoas.
Fiz karatê na faculdade por apenas um semestre. O karatê tem as divisões em faixas e isso mostra em que nível cada pessoa está. Todos fazem aula juntos, mas você sabe que começa com a faixa branca e o cara que está com a faixa preta está lá a muito mais tempo que você. O professor era japonês, falava pouco português e baixo demais. Daí a sobrinha dele (faixa roxa, duas antes da preta) ia lá para auxiliá-lo. Só que a única preocupação dessa mocinha era humilhar, escarnecer e se entediar com todos ao seu redor que não fossem faixa roxa, marrom ou preta, ou seja, 99% da turma. Hoje em dia, quando lembro disso, acho patétito e sinto pena dessa criatura. Mas na época isso me fez largar o karatê.
Atualmente fico meio estarrecida com a necessidade quase doentia que algumas pessoas têm em se expor, em descrever detalhadamente cada passo, cada suspiro do seu dia como se aquilo fosse um evento cósmico, algo de suma importância para a humanidade…Também não tenho natureza competitiva, não consigo entender o porquê de ficar exaustivamente mostrando o quanto se é melhor em algo que outra pessoa. Tudo nessa vida é conquistado com esforço, trabalho, treino. Se eu consigo desenhar hoje foi porque treinei, não porque tenho um dom sobrenatural. Claro que você pode ter inclinações e “facilidades” pra fazer algo, mas se não treinar/aperfeiçoar você morre na praia.
É como a história do Mozart né? O cara já demonstrava ser genail aos 4(!!!!!!!) anos de idade, mas se ele não tivesse sido estimulado, se não tivesse treinado talvez não tivesse desenvolvido seu talento. O Picasso é a mesma coisa.
E outra coisa: cada pessoa tem seu tempo e seu jeito de fazer as coisas. Eu demorei 2 anos pra aprender a nadar. 2 anos só pra aprender a coordenar braço, perna, respiração, flutuação….e a maioria das pessoas que fizeram comigo aprendiam em 1 semestre, mas a professora nunca me desestimulou!!!! Porque ela sabia que cada um tem seu tempo. Só depois disso tudo é que fui aprender os diferentes estilos e daí foi outro tanto de tempo.
E não sei se algum dia minha perna vai chegar na minha orelha rsrsrsrs, mas eu estou mega feliz em descobrir as possibilidades de ir além um pouquinho a mais cada dia e quem sabe dançar e dançar e dançar feliz por aí!
super beijo
ai, que post maravilhoso! Amei o trecho “Também conhecida como orgulho, ela derruba mais que fouetté fora do eixo”!!! SENSACIONAL. Me identifiquei muito com esse seu post, em cada palavra dele. Nossa, que belo início de dia. Eu sempre falo para as meninas mais novas (já que sou a mais velha da turma, rsrsrs) que nós temos que focar o trabalho em nós mesmas – não queira comparar a sua perna com a da vizinha, mas sim compare a sua perna com a “sua perna” de 1 ou 2 meses atrás. É assim que nasce um artista de verdade. Na minha opinião, não importa quem vc seja- humildade, sempre e em primeiro lugar. Afinal, é sempre bom chegarmos a algum lugar (onde quer que seja) acompanhada de pessoas que querem o seu bem, e não de pessoas que torcem para que as coisas não dêem certo. Bjus
acho que essa é a maior graça de fazer yoga e ballet juntos. um ensina tanto a não se comparar com o outro, ensina tanto que o sucesso não está na flexibilidade, ou na força, ou no equilibrio (quem faz mais coisa?), mas dentro da gente, na necessidade da consciência, da concentração, do alinhamento.
fazer ballet ficou muito menos doloroso agora que tenho a yoga. recomendo.
isso é verdade…eu mesmo já fui fisgada pela vaidade excessiva no ballet…A soberba e aa arrogância é algo q vamos encontrar MUITO no ballet e em todas as outras formas de arte mas não podemos nos deixar levar por elas,pq acabamos esquecendo o motivo pelo qual dançamos,que é o prazer,e ficamos o tempo todo preocupado com os aplausos e elogios… Acredito que o primeiro passo é destruir a idéia que o ballet é superior,melhor q as outras formas de dança,que é uma coisa nós pensamos as vzs…dar valor as outras formas de arte é essencial pra alcançar a humildade..
Post mto bom cássia,como sempre 🙂