O preço da autoestima

O post não tem relação direta com a dança, mas também nos diz respeito. Falamos muito em sonho, dedicação e dor e nem sempre pensamos sobre o seu significado. Afinal, fazemos ballet clássico para quê? Dançamos por quê? Onde queremos chegar?

Para todos nós pensarmos a respeito.

*

“O que eu mais quero não é necessariamente aquilo que está escrito no roteiro que traçaram por mim. O que eu mais quero tem a ver com aquilo em que mais acredito, o que mais fará diferença em minha existência, o que me faz crer que eu nasci para realizar. E dificilmente somos capazes de saber o que nascemos para realizar antes de viver um bocado.

“[…] O que eu mais quero com meu corpo é prazer. O prazer do movimento.

“[…] Quando terminei o treino, sentei no chão, abracei os joelhos e chorei. Não era uma derrota. Eu tinha obrigado meu corpo a cumprir com sua missão até o último agachamento. Sem me dar conta, eu tinha acelerado nos últimos segundos da contagem regressiva para realizar minha tarefa completa. Eu tinha me saído bastante bem, dadas as circunstâncias. Mas estava emocionalmente fragilizada. Por quê?

“O que eu mais queria naquele momento era outra coisa: descansar. Aquele era meu limite. Nem tanto o limite do meu corpo, que se mostrou capaz de fazer muito, mas o limite do meu sonho. Eu nunca quis ser uma atleta profissional. Não me atrai o grau de exigência a que os atletas se submetem. Eu não preciso me exaurir tanto para me sentir bem comigo mesma. Na véspera, já tinha me esforçado bastante para entregar a matéria da semana num prazo exíguo. Já tinha sido, na minha forma de ver, incrível no trabalho, e não precisava ser mais incrível no exercício. O esforço além do desejado foi como uma forma de abuso, uma exploração. Que eu mesma me impus.

“O choro de ontem me trouxe mais uma lição sobre a autoestima ao me mostrar que não é fazendo o máximo que eu puder que vou me sentir a dona do pedaço, mas sim fazendo o melhor que eu quiser. Desconfio que alcançar um sucesso não desejado é provavelmente tão ruim quanto não alcançar nenhum.”

Francine Lima, trecho de O preço da autoestima.
Para ler o texto completo, aqui.

5 comentários sobre “O preço da autoestima

  1. Amei o texto!
    Voce disse que nao é muito a nossa área, mas serve tambem..rsr
    Pois pra mim serve mais ainda! Mas nao por causa do ballet. É exatamente assim que me sinto na faculdade, que estou terminando.
    Amei, principamente essa passagem no último parágrafo da sua resenha:

    “O choro de ontem me trouxe mais uma lição sobre a autoestima ao me mostrar que não é fazendo o máximo que eu puder que vou me sentir a dona do pedaço, mas sim fazendo o melhor que eu quiser. Desconfio que alcançar um sucesso não desejado é provavelmente tão ruim quanto não alcançar nenhum.”

    bjos

  2. Na penultima semana, dando meu máximo, ou aquilo que eu achei que era meu melhor, exaurida emocional e fisicamente saí no meio da aula e vomitei. Voltei para pedir para parar e fui indicada a uma sequencia de assembles sutenis e fuettes… fiz. Quase sem forças de sorrir. meramente tentando fazer o que sobrava de energia transformar-se em tecnica. SENTI-ME VAZIA. Sem forças para continuar mas com vergonha de dizer que eu tinha um limite que tinha que ser trabalhado aos poucos. Meu vazio por ter feito a sequencia dificilima pedida sem sentir. sem sentir nada. algumas pessoa ssorriram pelo desempenho, e quem me conhecia um pouquinho mais viu a tristeza em meus olhos no final. Isso faz duas sextas feiras.
    Fiquei sábado e domingo de cama. tentando me recuperar.
    Na tercá-feira passada fui para minha aula. após uma hora de dedicação após dois dias de cama e sem comer praticamente pedi para parar. Meu pedido nõa foi aceito. e foi feito um segundo pedido junto com o treino: você precisa sentir.
    Como juntar exaustão + sentir?! E eu? Eu sou isso. Essa busca incessante de ajudar a responder respostas através do meu corpo, atraves dos meus aprendizados. Por isso voltei a ser bailarina aos 34 anos. Para ajudar a responder algumas perguntas sendo professora.

    Hoje eu parei conversei com meu amado amigo que me disse o que você quer é nobre, mas eu a quero ao meu lado, e se você continuar nesse ritmo nõa vai aguentar. é fato, ao esforço excessivo volto a vomitar. Ou seja, o limite é se amar. afinal só assim é possivel amar outra coisa ou alguém.

    Pelo menos ta sendo assim o aprendizado para mim. de que vale meu esgotamento, minha falta de cuidado comigo mesma, se eu não cuidar de mim mesma?! Meu adoecimento nõa ensina. MInha saúde sim. Minha estima serve para estimar…

    Fácil de dizer difícil de se fazer. mas tenho amigos, e um amigo amor que me faz parar. e o melhor tenho alunos que me fazem sempre lembrar do quanto é importante ser saudável…

    beijos Cá…

  3. Oie teu blog tão bem interessante espero q não pare de postar, eu também comecei o meu e sei q o tempo é duro pra quem faz mil coisas ao mesmo tempo,também danço e não pretendo parar… E sou gordinha,para ballet nossa sou muiito gorda! enfim, se sentir bem é o primeiro passo, e eu me sinto MUITO BEM!beijus !
    Juliana

  4. Lindo texto, e bastante terapêutico, hehehe. É isso que a gente tem que absorver. Se o grau de exigência for muito alto, não conseguimos fazer as coisas. Eu já te falei que quando eu comecei a fazer ballet eu sentia uma agonia horrível por não poder fazer as coisas direito. Eu não entendia como o meu professor tratava a gente com o mesmo respeito que ele trata as meninas profissionais, e que ele fica com raiva quando vê gente dizendo que está lá fazendo atividade física. Ele manda a gente fechar os olhos e dizer: uma bailarina nunca vai ficar bem o suficiente, nunca vai ser magra o suficiente e a sensação de inadequação nunca vai abandoná-la – ele realmente faz isso. Quando eu entendi que o que interessa são os meios e não os fins, a vida ficou bem mais fácil. Já que eu estou nessa fase Baryshnikov, eu li em uma de suas entrevistas, quando a entrevistadora lhe perguntou se ele continuava girando e saltando, ele simplesmente disse: “claro! É como uma nota musical – eu consigo dançar entre linhas, no limite mais alto e o mais baixo. Eu não salto muito até aqui ou me me agacho tanto lá, mas nessa oitava, eu posso fazer 100 por cento. E se o coreógrafo sabe disso, não há limite.” Palavra de um dos maiores bailarinos do século 20. Ele, pelo que eu vi nos vídeos, ainda faz muito!!! Eu e meus links, hehehe:
    http://www.theartsdesk.com/index.php?option=com_k2&view=item&id=884:theartsdesk-mikhail-baryshnikov-interview-part-1&Itemid=80

    http://www.theartsdesk.com/index.php?option=com_k2&view=item&id=998%3Atheartsdesk-mikhail-baryshnikov-interview-part-2&Itemid=80

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