Por um acaso, encontrei o site da Inês Bogéa, diretora da São Paulo Companhia de Dança (a sua biografia, aqui). Além de uma compilação sobre sua história profissional, há textos muito bons. Escolhi um deles e depois conto os motivos.
“Kazuo Ohno (1906-2010) condensava o tempo no movimento. Para ele era preciso suportar as pressões ao máximo, depois envolver-se no movimento e com a energia acumulada “elevar-se, na água da dança, como o linguado acima da areia”.
“Ohno começou a dançar aos 43 anos, e desde então não parou mais, mesmo nos últimos anos, na cadeira de rodas. Como ele mesmo dizia, “mover-se é procurar vida”.
“Um verdadeiro mestre da dança, ele nos transportava com seus gestos e sua presença até outro espaço, onde se conectam o arcaico e o atual. Foi um grande artista do butô – um estilo nascido no ambiente da vanguarda japonesa em fins da década de 1950, como resposta aos horrores da bomba de Hiroshima. O corpo e suas metamorfoses, o claro e o escuro, as memórias individuais e coletivas, a sexualidade, o inconsciente e o grotesco são temas recorrentes dessa forma de arte, que mudou a maneira de se pensar a dança no mundo. ‘No butô os mortos podem se transformar em força vital.’ […]”
Inês Bogéa. Trecho do texto “Morte e vida se alternam e se completam”. Folha de S.Paulo, 2 jun. 2010. Para ler completo, aqui.
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Kazuo Ohno começou a dançar aos 43 anos e é um dos maiores nomes da dança no mundo. Ainda há dúvidas se alguém pode começar mais tarde? Sério mesmo?
Foto: Kazuo Ohno, por Chris MaGee.
Para vê-lo dançar, aqui.
Percebo que existe uma leve resistência a outras danças que diferem do ballet clássico. Butô é difícil para nossos olhos e mente ocidentais, mas lembrem da minha proposta do começo do ano. Será assim mesmo: o ballet continuará sendo o principal, mas vamos sair da nossa zona de conforto.
Há ainda um outro motivo para o butô vir parar por esses lados. A Jacqueline, querida leitora, pediu para assistir a algum vídeo sobre essa dança. Ela sempre me presenteia com vídeos incríveis e eu tinha de corresponder à altura. Sendo assim, nada melhor que um post sobre o grande mestre do gênero.
Para saber mais:
Kazuo Ohno, de Inês Bogéa. Cosac & Naify, 2003.
Kazuo Ohno Dance Studio. Para visitar o site, aqui.
Oi, é meu nome é Nirjara. Muito prazer.
Sou da turma que começou dançar tarde,tb.
Comecei com mais de 30 anos e hoje estou com 50. Minha praia é contemporanea mas há alguns anos faço classico tb. E também danço butoh, para buscar origens. Sou japonesa.
Alguns anos atras assisti uma peça de butoh brasileiro com Ismael Ivo, Renée Gumiel, Dorothy Lenner “As galinhas”. Renée já estava com mais de 90 anos. deve ter sido um dos últimos palco que ela pisou pois faleceu logo depois. Ismael já estava beirando 50. absolutamente maravilhsos. Essas pessoas são realmente exemplo de vida. Minha ambição é poder dançar até morrer!
faz tempo q não vinha aqui me deliciar com suas pitadas de esperança Cássia..E qdo venho matar a saudade me deparo com um post tão lindo…assisti o vídeo dele q vc postou,realmente é difícil entender essa dança,esses movimentos,mas é bem fácil sentir a emoção q ele passa ao dançar..é bem teatral.. ARTE!
Ai ai… suspiro pela São Paulo Cia e pela Inês, com sua delicada lucidez sobre a dança. Quanto ao Ohno, bem, essa história linda de escolhas tem povoado muitos trabalhos de intérpretes, criadores e críticos. Tão bom, né?
Cássia do céu!!!!!!!!!
Vc quer me matar?????
hahahahahhahahah
Gente amei muuuuito esse post, o vídeo, o fato dele ter começado tarde…
Van Gogh começou a pintar depois dos 30…é pra se pensar também!
Tô meio passada…
Estou colocando em dia a leitura dos blogs e depois te escrevo com calma.
Muito obrigada.
Um beijo
Jac, sabe o que realmente aconteceu? No site da Inês Bogéa, li esse texto e achei que seria bacana falar sobre o Kazuo Ohno, especialmente pela idade com que ele começou… Enquanto pensava se realmente transformava em post, pois eu sei que uma parte das leitoras rejeita levemente o que destoa muito do ballet clássico, veio o estalo: “A Jac!” Pronto, me decidi na hora, hehehe. Fico feliz que tenha gostado. 😀
Grande beijo.
ai que lindo exemplo! é um super alento descobrir que ele existiu Cassia, maravilha
Olha pra isso!!! 43 anos e no wikipedia aparece que eu morreu aos 103!!! E eu me achando uma velha coroca!!!! Estou curada então. Acho que os meus complexos foram por água abaixo. Pelo menos há alguém que começou mais tarde do que eu. Isso aqui é uma terapia!!! Eu vou investigar isso direito. Cássia, como é possível você saber de tantas coisas?
Não é um alento descobrir que ele existiu? E, querida, eu não sei tantas coisas… eu as descubro. 😉
Beijo imenso.