Há bastante tempo, eu disse que vez ou outra publicaria trechos de “Os princípios básicos do ballet clássico”, de Agrippina Vaganova. Expliquei o motivo aqui.
Vamos para o segundo trecho.
“O allegro é o fundamento da ciência da dança, sua complexidade e garantia da futura perfeição. A dança, como um todo, é construída no allegro.
“Não considero o adagio suficientemente revelador. Nele, o bailarino tem o apoio de seu partner, da situação dramática ou lírica etc. É verdade que um certo número de dificuldades, até mesmo virtuosismos, foram agora introduzidos no adagio, mas eles dependem em grande parte da perícia do partner. Mas, chegar ao palco e causar impressão em uma variação é algo mais, pois é aí que aparecem as sutilezas e a conclusão da dança do bailarino.
“E não apenas variações, mas a maioria das danças, tanto solos como grupos, são construídas no allegro; todas as valsas, todas as codas são allegro. Ele é vital.”
Agrippina Vaganona, em Princípios básicos do ballet clássico, p.23.
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É comum o pas de deux ser visto como o ponto máximo de uma bailarina ou bailarino. A variação é vista com um leve desdém, praticamente um adendo. Ledo engano.
Você sabe onde encontro esse livro da Agripina Vaganova?
Nathalia, esse livro só é encontrado em sebos, mas mesmo assim é difícil. Há uma nova tradução, “Fundamentos da dança clássica”, da editora Prismas. Eu não li, não posso falar sobre a qualidade da tradução ou edição, mas acredito que vale a pena. Grande beijo.
Eu amo as variações masculinas do La Sylphide, e ele é leve como uma pena.
Estou amando tudo isso. Como se aprende aqui!!! Myrna, parabéns pelo blog. Eu vou passar a ler o seu também.
Querida Cássia, muito obrigada pelas suas palavras.Fico feliz em colaborar e sinto-me muito honrada em ter vc como leitora do meu blog. Acompanho o seu com grande interesse e gosto muito, precisamos mostrar a dança com tempero e temperamento,não acha? Eu tenho verdadeira paixão pela escola de Vaganova,tenho me aprofundado no método nos últimos 10 anos, mas ainda tenho muito chão pela frente. Comecei os meus estudos de ballet como a maioria dos brasileiros, sem uma escola definida, uma grande mistura de estilos e metodologias, mas que me deu uma formação suficiente para que eu pudesse “correr atrás” do que realmente queria e podia (dar aulas) Quando me deparei com o método de Vaganova disse a mim mesma:_ Este é o ballet que quero aprender a ensinar, porque comecei meus primeiros passos com 19 anos de idade e não parei até hoje…
Mil beijos!
Obrigada Juliana. Quanto a comparação de adágio e allegro, na verdade não se trata de comparação e sim de entendimento da importância de um e de outro.Ela diz claramente que ambos são importantes, mas na verdade o que existe nas entrelinhas é que os alunos e o público ficam deslumbrados com o pas de deux, quando na verdade a variação é que mostra o grau de técnica que o bailarino tem. É isto mesmo, os jurados da dança dos famosos observam isto, muita acrobacia (são os portés) para disfarçar a falta de técnica do estilo escolhido ( tipo, não tem samba no pé,sabe?). O público adora, mas o juri observa de maneira bem diferente. Idem no ballet, se a bailarina tem pernas altas,arabesques fabulosos,mesmo que ela tenha falta de controle da perna de base e do dorso, tendo o bailarino como apoio, um figurino bem feito e um belo sorriso, ela consegue se sair razoavelmente bem.
Mas se tirarmos todo este “arsenal cênico”, será que ela conseguiria empolgar o público na variação?
Ps: aquela sequência de entrechats six é absolutamente incrível . Amo de paixão esta virtuosidade!
Hauhauahaua!!!!! Minha mãe fica pra morrer quando eu começo a repetir o óbvio. Pode ir se acostumando!!! A mesma coisa foi em relação aos meus comentários no seu post sobre os bailarinos brasileiros. Verdade verdadeira!!! Sem allegro não se dança (no sentido literal da palavra), mas na verdade se fala do deux, o que é mais notado pelas pessoas leigas (que é lindíssimo, isso é). Mas dificuldade mesmo está na execução dos passos de allegro. É porque inclui tudo: além a da preparação física, vê-se a coordenação, a musicalidade. Não é fácil não. Isso é muito notado naqueles comentários dos jurados da Dança dos Famosos. Muitas vezes os dançarinos incluem muitos levantamentos (não sei como se diz isso), mas com pouca dança. Acho que estamos entendidas agora 🙂
Não Cássia. Antes do Pas de deux, logo quando ele aparece e começa a pular (acho que é um entrechat six). Esta é a variação à qual me referi. Depois tem o pas de deux. (outra variação que eu amo é a do James do La Sylphide — esses passos são tão legais que chegam até a hipnotizar, nada mais se mexe). Quando eu disse que não entendi a comparação, foi que eu sempre achei que as duas coisas são distintas, com funções completamente diferentes.
Aaaaaaaah, tá! Desculpa, querida, eu entendi errado então, considerei o vídeo todo. Mas é exatamente isso, são duas coisas distintas. Na verdade, a Vaganova afirmou que o princípio da dança está no allegro e, para isso, teve de explicar porque o adagio não é a última bolacha do pacote. Especialmente porque a ideia geral é que o pas de deux “comanda”, né? Hehehe. Ele é visto como o ápice e não é verdade. Ou seja, você já tinha entendido. 😉
Bela explicação dada pela Myrna. A beleza do allegro está na técnica, que por si só se satifaz. Eu gosto deste video do Roberto Bolle, que aparentemente de maneira simples, os executa com beleza e precisão (é como a variação dos pequenos cisnes que é um primor)
Mas eu acho que eu ainda não peguei 100% o que Vaganova quis dizer. Achei que não havia motivos para comparar uma coisa com a outra. Mas como disse acima, talvez seja falta de conhecimento suficiente da minha parte. Bjs
Ju, não sei se você já tinha lido, mas comentei sem assistir ao vídeo. Assisti, vi que falei bobagem e apaguei. Você falou sobre o Roberto Bolle, pensei que fosse variação. Isso é pas de deux. Pegue uma variação, pode ser masculina ou feminina, depois pegue um pas de deux e analise as diferenças. Fica bem mais fácil de entender. 😉
Beijos.
Quando falamos realmente sobre técnica, falamos de allegro. Os passos isolados e decompostos tem um grau de dificuldade menor se comparados as combinações que requerem dinâmica, transições e estilo que compõem uma variação.É muito mais difícil fechar todas as quintas e mostrar a clareza das passagens , en dehors perfeito, além de executar as diferenças de acento,expressividade e estilo quanto mais rápidos forem os allegros.
AgrippinaVaganova mudou a trajetória do ballet clássico no mundo, com seus ensinamentos baseados em ciência e arte, e que sabiamente são utilizados (com pequenas alterações) até hoje pelos grandes mestres da dança.
Myrna, adorei a explicação! Abriu os meus olhos para algumas coisas. Verei o adagio e o allegro de maneira bem mais clara daqui em diante. E parabéns pelo blog, vai entrar para a minha lista de leituras obrigatórias.
Grande beijo.
Concordo 100% com vc Cassia. Realmente, é de cada um… Como vc mesma disse, vc não gosta. Mas para mim, por exemplo, é o momento mais incrivel; sim, entendi o que a Vaganova disse, concordo com ela, é que quiz deixar uma “piadinha”, quando comparei um com o outro. Bjus
Concordo e descordo com o ensinamento da Vaganova Cassia. Concordo no sentido de que, em se falar de técnica, realmente é na variação, no solo, em que vc pega mesmo a técnica da bailarina… MAS… em um pas-de-deux é que a bailarina se realiza! Não existe nada igual a dançar com um VERDADEIRO PARTNER (eu tive a sorte de encontrar um maravilhoso, o André, espero sempre dançar com ele). Sem dúvida, a bailarina precisa de mais técnica no outro, mas dançar o pas-de-deux é um sonho, uma paixão. Ah, só mais uma coisa – por melhor que seja o bailarino, se a bailarina não tiver técnica suficiente, a coisa também não sai! Beijos, parabéns de novo pelo Blog!
Tatiana, mas a Vaganova só falou sobre técnica. Por outro lado… é mesmo no pas de deux que uma bailarina se realiza? Ou há bailarinas que se realizam no pas de deux? Eu, por exemplo, não gosto. Nunca gostei e a coisa só piorou quando “ganhei” uma lesão irreversível no joelho direito por conta de uma aula de pas de deux mal conduzida. E, claro, os dois bailarinos devem ser bons. Quando ela fala da perícia do partner, está falando de ambos. Afinal, não é apenas o bailarino que é partner, a bailarina também, certo? 😉
Grande beijo.
Já que estou aqui, vou ser a primeira a comentar, sem saber o que comentar. Quer dizer: acho que entendo o que a Vaganova quer dizer. Pois o allegro dá vida à dança e é muitoooo sofisticado. O bailarino não precisa de mais nada, a não ser das pernas. Mas eu acho a comparação estranha. Talvez seja ignorância da minha parte. Bjs