Em 2005, participei de uma peça chamada Pequenas estórias, com textos do escritor uruguaio Eduardo Galeano. Nove atrizes, nove histórias de nove mulheres diferentes. Além de outros textos contados por todas.
Na época eu não dançava. Um dos diretores escolheu um texto específico para cada atriz. Fiquei com Helena, aquela que viajava ao país dos sonhos. Eu contava a minha história no escuro, usando apenas uma lanterna. Lindo! Outra atriz ficou com Isadora. Essa mesmo, a Duncan. Ela começava a sua cena dançando. Nas seis apresentações que fizemos, eu sempre pensava: “Queria contar essa história para poder dançar”.
Eu já era bailarina e não sabia.
Na apresentação o texto foi adaptado, mas esta é a versão original.
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Descalça, despida, envolvida apenas com a bandeira argentina, Isadora Duncan dança o hino nacional.
Comete esta ousadia numa noite de 1916, num café de estudantes em Buenos Aires, e na manhã seguinte todo mundo sabe: o empresário rompe o contrato, as boas famílias devolvem suas entradas ao Teatro Colón e a imprensa exige a expulsão imediata desta pecadora norte-americana que veio à Argentina para macular os símbolos pátrios.
Isadora não entende nada. Nenhum francês protestou quando ela dançou a Marselhesa com um xale vermelho como traje completo. Se é possível dançar uma emoção, se é possível dançar uma ideia, por que não se pode dançar um hino?
A liberdade ofende. Mulher de olhos brilhantes, Isadora é inimiga declarada da escola, do matrimônio, da dança clássica e de tudo aquilo que engaiole o vento. Ela dança porque dançando goza, e dança o que quer, quando quer e como quer, e as orquestras se calam frente à música que nasce de seu corpo.
Eduardo Galeano. Isadora. In: Mulheres, p.128.
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Para ninguém ficar brava, saibam que o trecho “inimiga […] da dança clássica” foi cortado na versão adaptada. Eu não me importo, adoro o texto original mesmo assim.
Aaaaaah, Ana, então foi ela que morreu assim! Eu sempre soube dessa história, mas não sabia que tinha sido a Isadora. Triste, não? Nem em filmes imaginaríamos isso…
Doce beijo e obrigada por matar a minha curiosidade, hehehe.
Posso mater um pouco da sua curiosidade Cássia rs. Ela morreu enforcada porque a echarpe que ela usava prendeu no pneu do automóvel conversível. Se não fosse a echarpe…
Thaís, na minha cabeça eu tenho o texto da versão da peça. Esse trecho era assim: “Inimiga de tudo aquilo que engaiole o vento…” O diretor matou todo esse meio! Só quando fui pegar o livro para colocar aqui eu li isso da inimiga do dança clássica e imaginei uma porção de bailarinas lendo animadas e… “Epa, como assim?” Hehehehe. Como eu te contei, comprei o livro e já comecei a ler… Muito obrigada pela indicação! Ah, e o seu primeiro blogue já está no meu Google Reader. 😉 Eu também tenho outro, o Carambolas Azuis (carambolasazuis.wordpress.com), mas esse nome veio da minha mente insana mesmo. 😛
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Ana, sabe que eu não conheço a história da Isadora? Só sei que ela é uma das precursoras da dança moderna, mais nada. Eu vou pesquisar sobre a biografia dela… E fiquei curiosa para saber que fim tão trágico ela teve.
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Jessy, e ele sendo encenado ficou tãããão bonito!
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Leticia, eu amei o quarto da bailarina! E como eu comentei lá, eu queria um cômodo em casa só para dançar ballet, sem ser no quarto, algo feito só para dançar. Mas aí, para eu ter isso em casa, né?, só jogando na Mega Sena, hehehehehe.
Beijos.
Cássia,
Lindo o texto… realmente deve ser show de interpretar.
Ontem, postei no meu blog um quarto de uma bailarina… é claro que a pessoa que projetou não deve ser bailarina, mas estou buscando referências para postar. Prometi lá, que mais para frente, vou desenhar o que seria o meu quarto de bailarina… rs. Porque o meu teria barra, espelho, sapatilha pendurada e tudo mais… Depois, se puder, dê uma passada por lá.
Beijos!
Show de bola o texto! Adorei! A historia de vida de Isadora Duncan eh algo surpreendente!
Bjos!
Adoro a história de vida da Isadora Duncan, e adoro o que ela fez em vida. Só lamento pela morte dela, foi uma morte estúpida e crual.
Que lindo, Cássia! Descobrindo cada vez mais talentos em vc… 😛
Isadora Duncan era mesmo inimiga do Clássico. E é engraçado vc. postar isso aqui após nossas afirmações no Twitter. Vc. já leu “Dançar a Vida” do Garaudy? Foi esse o livro que acabou com a minha implicância com a dança moderna. E pior: me deixou encucada com o academicismo do Clássico! Passei um tempo achando até que nem arte era! Imagina? Mas só depois de ler este livro (e há um capítulo especial para Duncan e Graham), entendemos a afirmação do texto de Galeano sem qualquer espanto. Recomendo muito!
Um beijão!
Thaís
PS: Foi esse livro que deu nome ao meu primeiro blog (http://dancaravida.blogspot.com)